O fim do Orkut?




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Hoje estava conversando com uns amigos e fazendo umas buscas no Alexa quando notei algo curioso: uma queda considerável no tráfego do Orkut (vide gráfico).

Em 2006, acompanhando o tráfego pelo Alexa, notou-se um crescimento quase exponencial das buscas pelo Orkut (linha azul). Esse aumento é bastante posterior à adoção massiva que aconteceu no Brasil em 2004 e 2005 (que não aparece no gráfico), possivelmente devido a um não-uso da barra do Alexa pelos usuários brasileiros. Assim que o crescimento de 2006, juntamente e proporcionalmente com o do Fotolog (linha verde), parece ter sido uma conseqüência direta não da adoção dos respectivos sistemas, mas simplesmente da adoção do Alexa. Outro indício seria a aproximação do Orkut com o MySpace (linha vermelha). Como o Orkut não tem - aparentemente- aumentado o número de usuários americanos, a explicação mais plausível parece ser a de que algum grupo representativo de usuários do Orkut e Fotolog (o Brasil, possibilidade mais concreta) adotou o Alexa.

Enfim, em 2006 o Orkut se aproxima bastante do MySpace, mas ao final do ano, começa a cair vertiginosamente, enquanto o MySpace retoma o crescimento. Será esse um indício de que o uso do Orkut esteja caindo dentro de um determinado grupo de usuários que também utiliza o Alexa? Será um indício de uma nova onda de adoção do MySpace entre usuários do Orkut? Estranhamente, o fluxo do Fotolog permanece estável no período, mostrando que a oscilação está mesmo no Orkut.

Parece, do ponto de vista do meu trabalho qualitativo, que está mesmo acontecendo uma saturação no uso do Orkut, que vem desacelerando desde 2006. Na época, principalmente pelo banimento do sistema, por parte de todos os administradores, e a proibição de acesso em repartições públicas, empresas e universidades. No entanto, a quantidade de novas apropriações, um dos principais indícios da "vitalidade" de um sistema social, também parece ter estagnado. A falta de novas ferramentas, a falta de novidades significativas e a queda da utilidade perceptível também apresentam entraves. A última "mania", o projeto de apagar os recados para proteger a privacidade, parece ter contribuído de algum modo para esse desencanto. Com o espalhamento do comportamento, é cada vez mais difícil aos usuários "xeretar" pelo Orkut, um dos usos que mais popularizou o sistema. Além disso, a parte de mensagens para o celular, que comentei algum tempo atrás, não funcionou em todo o Brasil tão bem quanto deveria, rapidamente caindo no ostracismo tanto pela falta de usabilidade, quanto pelos problemas da operadora. A última novidade, o aparecimento da propaganda, pode representar o golpe final: O sistema já é cheio de spam através de scraps, comunidades e etc. Será que os usuários aguentarão mais propaganda ainda? E nos perfis, nas suas comunidades e recados?

A verdade é que tenho uma percepção um tanto o quanto negativa. Não vejo uma possível inovação que possa acontecer rápido o suficiente para gerar um novo foco de interesse e tráfego no sistema. Penso que o único modo de gerar algo assim seria criar alguma forma de interação no Orkut, uma que pudesse ser apropriada por comunidades emergentes e que conseguisse gerar um novo foco de interesse e de capital social. Talvez isso aconteça porque a arquitetura do Orkut permita já, por si só, uma quantidade limitada de apropriações, ao contrário dos weblogs, fotologs e mesmo do MySpace, muito mais abertos. Talvez porque o grande barato do sistema, mostrar sua rede social, tenha atingido já o limite (tal qual o limite de mil amigos, ainda em uso), colocando todos os "famosos" no mesmo patamar e inutilizando uma das apropriações que inicialmente deu força ao Orkut.

Enfim, é um bom tema para debate. A análise acima é pseudo-científica, já que não tenho como saber se efetivamente o tráfego está caindo, apenas tenho a intuição de que a utilidade e a apropriação estão. Também não está baseada em dados completos e reais, já que não tenho acesso a quaisquer dados que não os da minha pesquisa. De qualquer forma, vale a discussão. O que os leitores pensam?