Sobre a questão da privacidade (Data Privacy Awareness Day)


privacy.jpgOntem foi o Data Privacy Awareness Day nos Estados Unidos, Canadá e Europa. A idéia foi promover movimentos de conscientização a respeito da privacidade na Internet e da "publicidade do eu" entre os jovens e adolescentes. Várias instituições e companhias participaram fazendo posts nos blogs e contribuindo para o debate.

A preocupação para com a privacidade dos dados na Internet tem crescido no mundo todo, embora ainda tenha pouca importância para os usuários brasileiros. Durante as pesquisas em que trabalhei com pessoas de fora do Brasil, pude ver isso claramente. E essa preocupação vem em forma não apenas dos traços que são deixados, na maioria das vezes de forma inadvertida no ciberespaço, mas igualmente, da conscientização de que dado é colocado online e de como estamos nos expondo ao mundo e da responsabilidade que isso acarreta.

Acho que essa é uma discussão muito importante no Brasil. Temos 40 milhões de pessoas usando o Orkut e, através dele, aprendendo a usar blogs, Twitter e outras ferramentas sociais. E o ciberespaço ainda é um território obscuro para a maior parte dessas pessoas, um espaço onde os outros não são claramente perceptíveis. Um espaço onde não vemos aquele que nos vê, o vigia. E cada vez mais vemos pessoas publicando suas senhas em serviços duvidosos, colocando seus dados pessoais em qualquer tipo de site e etc. Vejo claramente pessoas colocando fotos pessoais, da família, da casa em todas as ferramentas sem dar-se conta de que essas fotos estão públicas. Indivíduos que começam a publicar seu dia-a-dia no Twitter sem dar-se conta de elementos como fakes, como a exposição ao ridículo ou mesmo, com fama súbita. Além disso, é preciso conscientizar as pessoas do acesso à informações privadas que é, muitas vezes, apropriado e negociado entre empresas que deveriam proteger esses dados; ou que é utilizado com propósitos diferentes daqueles autorizados.

O ciberespaço é cruel. Mas é cruel porque há inúmeros residentes, muitos dos quais pessoas mal intencionadas, como no mundo offline. Nesse sentido, não estamos mais seguros aqui do que estamos se começarmos a publicar nossos dados pessoais na mídia tradicional. Assim, acho que há uma necessidade premente de que a conscientização seja parte da alfabetização digital no Brasil, um dos países onde as pessoas menos se preocupam com os rastros que podem voltar para assombrá-las no futuro. Defendo, portanto, que a exposição do eu seja realizada com consciência e cuidado. Não acho que as pessoas devam apagar seus perfis do Orkut e fugir para as montanhas. Mas acho que é preciso, sim, cuidado com aquilo que é publicado, e uma conscientização de que colocar algo online é, sim, publicar informação. E que é preciso pensar a respeito de quais informações queremos deixar online e quais, queremos resguardar. É preciso conscientizar também instituições públicas, governamentais e etc. (principalmente aquelas que focam concursos públicos, que publicam inclusive o CPF dos candidatos online, sem sua autorização) a respeito disso. A privacidade é um direito a ser respeitado.

Alguns textos e links interessantes do Data Awareness Day: