O Problema da Privacidade para os Sites de Rede Social


midiasocial.jpgOntem eu estava lendo mais da enxurrada de críticas ao Facebook e suas políticas de privacidade. Na verdade, a crescente preocupação para com a privacidade (comentei um pouco no último post) é um grande problema para os sites de rede social. Isso porque, primeiro, grande parte do valor desses sites para os usuários está, justamente, na publicização das informações pessoais, na performance. Quem estuda o Orkut sabe, por exemplo, que uma das práticas sociais mais valorizadas no sistema é aquela do social browsing, ou seja, de observar os perfis e as mudanças dos perfis dos outros, ver quem é amigo de quem. Em última análise, as práticas sociais correntes no Orkut (e em outros sites de rede social) valorizam mais os laços fracos, as conexões com quem se conhece pouco do que as conexões com os laços fortes. Para os amigos, os usuários costumam utilizar outras ferramentas, como os mensageiros. Assim, estar num site de rede social é performático, é exposição, construção de presença. Ao mesmo tempo, é ser público.

Ora, o problema com a crescente preocupação é o óbvio. Enquanto todos querem saber da vida de todos, ninguém quer liberar suas próprias informações. E quanto mais as pessoas colocam camadas de privacidade nos seus perfis, menos valor esses perfis têm para a rede e, consequentemente, esse comportamento, se adotado por uma massa crítica, pode reduzir significativamente o valor do site de rede social. As pessoas passam a ser mais seletivas na adoção de amigos. Mais fragmentada vai ficando a rede. Quanto mais fragmentada, menos informação circula.

Trata-se de um desafio. Os sites de rede social precisam garantir a privacidade dos seus usuários e, ao mesmo tempo, manter o valor da rede. Uma das formas de fazer isso é corrente hoje: estimular outras práticas sociais, como os jogos e a conversação com os laços fortes (mensageiros instantâneos nesses sites). Ainda assim, mudar as práticas sociais já constituídas é muito difícil. O tiro pode sair pela culatra. O Facebook, por exemplo, com o advento dos jogos, experimentou uma grande quantidade de perfis fakes para usuários que querem jogar sem explicitar isso em seu perfil principal. A quantidade de perfis falsos também reduz o valor do site de rede social, cuja apropriação principal reside em sua conexão com o mundo offline (pessoas que se conhece). Já os mensageiros instantâneos são usados, mas a maioria ainda prefere os tradicionais, que já usa fora da Web. Outra prática é a de estimular o desenvolvimento de aplicativos por terceiros, para acrescentar valor ao site (como jogos, quizzes, pokes e etc.). Só que isso também é complicado, pois, para que o desenvolvedor consiga fazer o aplicativo funcionar em rede, ele precisa ter acesso aos dados que foram gravados por você no seu perfil. E, com isso, seus dados ficam gravados nos servidores de terceiros quando usa um aplicativo. O Facebook, por exemplo, tem uma política de privacidade que apenas solicita ao desenvolvedor que apague os dados se o usuário pedir. Só que a empresa não tem como assegurar que isso realmente aconteça, porque os dados estão no servidor do desenvolvedor. O que ele pode fazer é pedir ao desenvolvedor que respeite isso. Complicado, não? É por isso que quando se adiciona um aplicativo, o site pergunta se você quer dar acesso a terceiros ao seu perfil.

É por isso que o Zuckerberg afirma que "não acredita na privacidade" e a maioria das políticas de privacidade dos sites de rede social não são assim, tão privadas. É uma questão extremamente delicada e difícil para esses sites. Quanto mais a preocupação para com a privacidade cresce, maior o risco de que, ao final das contas, as pessoas decidam que não vale a pena manter um perfil e comecem o deletem. Em massa.