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Jornalismo e Redes Sociais: Legitimação, Filtragem e Aprofundamento
8-08-2011

Para tentar entender esses processos, iniciei um mapamento via NodeXL+ Migre.me no Twitter no início do ano e depois passei a explorar algumas hashtags noticiosas. Várias coisas interessantes surgiram. Uma parte desses apontamentos está em um artigo que enviei pra um congresso recentemente. Pensei, assim, em discutir um pouco aqui algumas coisas que estão aparecendo, de um modo especial, algumas funções que parecem ser atribuídas ao jornalismo nesse espaço, de forma, é claro, simplificada.
Uma das primeiras funções que apareceu nos dados foi a função de legitimação. Por exemplo, mapeando tweets relacionados com eventos noticiosos (vou exemplificar aqui dois, a morte da cantora Amy Winehouse e os atentados em Oslo), vê-se claramente que há dois tipos de tweets: aqueles que dizem que algo ocorreu e pedem mais informações e aqueles que difundem informações supostamente relacionadas com o fato. Dentro dessa segunda categoria, os tweets de veículos jornalísticos parecem ser aqueles que são mais retuitados e comentados. Ou seja, o furo não é dado pelo veículo (todo mundo está sabendo que algo ocorreu), mas a legitimação da notícia, sim (mas ficam esperando um veículo jornalístico "confirmar" o evento).

Essa primeira imagem mostra alguns dos primeiros tweets a respeito dos atentados em Oslo que usaram a hashtag ou a palavra "Oslo". No centro, em vermelho, está um dos primeiros veículos a noticiar o fato, o @SkyBreakingNews. Note-se a quantidade de tweets buscando informações, sem referência a ninguém (conexões).

Essa segunda imagem já mostra as informações relacionadas a hashtag #Oslo ou usando a palavra Oslo algum tempo depois. Note-se que o veículo jornalístico (mesmo nó vermelho central) torna-se ainda mais central no grafo, com mais referências e mais citações a ele. Há outros veículos no grafo já sendo citados também (notadamente, outros nós com bastante conexões). O principal valor, aqui, do jornalismo, é aquele da credibilidade, de legitimar o evento como fato.
A segunda função é aquela de aprofundamento. Ok, todo mundo sabe que alguma coisa aconteceu, milhares de informações foram repassadas sobre isso. Mas as pessoas querem saber os detalhes: o impacto, a ação da polícia, o número de mortos e etc. Esses detalhes também são procurados nos veículos jornalísticos e são repassados a partir deles. Aqui, outro exemplo relacionado com as notícias da morte da Amy. Ainda já várias horas depois da morte da artista, retweets e informações relacionadas com o evento, dadas por veículos eram aquelas mais repassadas.

O nó vermelho central aqui é a @RollingStoneBR falando da autópsia da cantora. Entre outros veículos que apareceram no mapeamento no final do dia, estão veículos relacionados com a música (por exemplo a @MTVnews entre outros).Relacionada com essa função está aquela de filtragem, ou seja, do jornalismo filtrar as informações que têm fundamento daquelas que não têm. Quando os dois fatos apareceram no Twitter, imediatamente diversos boatos passaram a circular, bem como informações falsas e links maliciosos. Talvez daí o reforço do valor credibilidade para os veículos jornalísticos e para o jornalismo de tabela.
Há mais o que discutir, mas fica para outro post. O que se observa, com esses primeiros apontamentos, é que o jornalismo retém para si a função principal de filtrar, dar crédito e legitimar os eventos noticiosos, declarando o que é e o que não é. Ou seja, observa-se uma manutenção do lugar de fala do jornalismo enquanto reprodutor daqueles discursos que "precisam" ser ouvidos. Em um mundo de liberação do pólo emissor e de horizontalização das informações, isso é curioso, porque mostra que continuamos dando ouvidos (ou lendo, como queiram) as velhas fontes de sempre. De uma certa forma, também aponta para relfexões com relação ao informational overload e à atenção como recurso escasso por conta dessa imensa quantidade de informações circulando.
Apesar das possibilidades de participação dessas ferramentas, as notícias que vêm por outras vias necessitam de alternativas para alcançar níveis de difusão semelhantes àquelas dos jornais. Ou um grande hub com muita crediblidade, por exemplo, ou uma grande quantidade de pessoas reforçando a informação. Da grande maioria das notícias mais repassadas e links que atingem nós mais distantes da rede que eu consegui coletar estão apenas notícias dadas por veículos. Curioso, não? Mas é assunto para outro post que este já está imenso. :) E claro, o próximo passo é investigar como essa legitimação acontece no Facebook. A julgar pela "cartilha" deles, o processo é bem semelhante. E outro post também é merecido com o foco no que as redes fazem pelo jornalismo (e não o que o jornalismo faz pelas redes), sobre o que já escrevi há alguns anos.