[26 de janeiro de 2010]

Jogos, Sites de Rede Social e Conversações

conversacao.jpgO André Lemos escreveu, recentemente, sobre conversações como sendo o "bojo do processo comunicacional das novas mídias eletrônicas", o centro das ações e participações na mídia social. Eu não poderia concordar mais. A conversação mediada É a mídia social, no sentido em que a trabalhamos aqui. (O próprio Benkler (2006) defende essa proposta dizendo que mídia social é sobre conectividade social.) Pois se jogos são o centro daquilo que chamamos mídia social e a mídia social hoje, engloba os sites de rede social e seus aplicativos, podemos dizer também que os jogos que ali se encontram são formas de conversação.

Conversações Mediadas

Na verdade, uma série de autores já vem defendendo essa posição, discutindo que um jogo sempre tem uma função social, que é exacerbada dentro dos sites de rede social (vide, por exemplo, Jarvinnen, 2009; Simon, 2008 e etc.). Na verdade, os processos de conversação a partir da mediação do computador já têm sido discutidos como amplamente modificados. Uma dessas primeiras modificações já é apontada pelo Lemos no artigo que eu referenciei acima: as conversações são muito mais coletivas dentro da rede social, mais públicas, por assim dizer, dentro da própria rede. Outra delas é apontada pela danah boyd como uma das características dos sites de rede social: a persistência dessas conversações no tempo. Ou seja, não apenas as conversações tornaram-se mais amplas em termos de alcance, mas mais persistentes, amplificando-se na rede social. Essas conversações mediadas, assim, deixam passam a ter impactos diferenciados nas redes sociais que emergem nesses sites. Elas não apenas refletem as interações, mas igualmente servem para mostrá-las, para definí-las, para reforçá-las para a própria rede. Em outras palavras, uma conversação que se desenvolve nos scraps do Orkut não é apenas entre eu e o Outro, mas entre os atores e toda a rede social que tem acesso e recebe a conversação em seus feeds. Embora essa rede não participe ativamente da conversação, ela a percebe, categoriza e constrói. É uma audiência invisível, mas da qual os atores possuem plena consciência.

Conversações e Jogos

A partir desta perspectiva, podemos perceber de forma mais clara como os jogos podem constituir-se como conversações. Jogos possuem enunciados, que são refletidos não apenas pelo próprio sistema (quando publica nos feeds, por exemplo, que eu ultrapassei algum de meus amigos ou quando eu subi de nível). Esses enunciados são coletivos e públicos. São trocados entre os atores da mesma rede social. Alguns sites, permitem, inclusive, que os atores possam manifestar-se sobre o assunto. São variações e seqüências que contribuem para ações coletivas (como por exemplo, direcionar os demais para o mesmo jogo, estimular a competição, etc.) e que são igualmente direcionada a atingir objetivos comuns (por exemplo, ampliar minha família no Mafia Wars). Podemos observar as requisições de turnos (explícitas, como por exemplos, quando um jogador desafia outro, quando envia um "presente" e solicita retorno; ou implícitas, como quando o primeiro colocado é ultrapassado ou recebe um prêmio especial, ou um membro da família é "atacado" por uma gangue rival etc.), a tomada de turnos, a troca de ações, feedback e linguagem.

jogos5.jpg

Dentro dessa perspectiva, jogos podem ser sim, compreendidos como conversações mediadas, que contribuem para a construção de objetivos comuns. Como conversações, os jogos também têm um importante papel na construção e no reflexo da rede social que está expressa no site. Podem construir e expressar novos valores, novas práticas e novos sentidos para a rede. Assim, as interações que estão ali não podem ser relevadas ou reduzidas em sua importância. São conversações que são construídas de forma não linear, muitas vezes multiplexas e que migram dentro dos vários sites adotados pela rede.Mas mais importante do que isso é perceber que os jogos casuais são sim, sociais, e que a conversação é parte importante da adoção do jogo, de sua viralização e, igualmente, de sua retenção.
por raquel (08:12) [comentar este post]


Comentários

Thiago S. Rosa (janeiro 26, 2010 9:51 AM) disse:

Por isso que quando falamos no Facebook VS as outras redes sociais, ele leva vantagem competitiva em relação a socialização das pessoas. A plataforma mais flexível dele permite maximizar estas conversações para todos os níveis dentro da rede de amigos. Resumindo, concordo com o que você projetou dentro deste post. Muito bom.

André Santos Chiapetta (janeiro 31, 2010 10:48 AM) disse:

Olá Raquel! Muito legal o seu site!
Concordo com o que disse no post, acredito que os jogos nas redes sociais tenham possibilitado uma interação maior para com a rede de amigos de cada pessoa, possibilitando mais ainda um reflexo da vida "real" por exemplo.

João Baptista Lago (janeiro 31, 2010 2:39 PM) disse:

Oi, Raquel: se a gente levar em conta os jogos existentes nos sites de redes sociais, eles de fato possuem aspectos competitivos, como por exemplo os scores que classificam seus participantes, por maior ou menor pontuação obtida; alguns mais discretamente, outros mais ostensivamente. Todavia é importante pontuar que, de um modo geral (isto é, inclusive fora da Internet), jogos não são necessariamente competitivos. São também muitas vezes um recurso lúdico para as pessoas se expressarem, sem a existência de scores e elementos classificatórios. Assim, se no FB os jogos possuem scores, isso refletiria uma característica fundamental da sociedade norte-americana, o espírito de competição: que, embora exista em todas as sociedades, possui uma importância maior - descomunal mesmo - nos EUA que em outras culturas. O FB, no entanto, também é competente nesse sentido, já que consegue agradar tanto a gregos quanto a troianos. Assim, para os que amam competir, seus jogos possuem scores; jogos que no entanto também satisfazem quem os utiliza para finalidades não-competitivas, como a expressão da própria personalidade, o compartilhamento de valores estéticos, o prazer de estar se relacionando com outras pessoas e assim por diante. Nesse sentido arrisco escrever que, se em muitos jogos do FB não houvesse nenhum score ou elemento competitivo, estes continuariam sendo frequentados, já que permitem a comunicação e expressão de uma vasta gama de outras necessidades, além do desejo de competir.

Um segundo aspecto é que os jogos, assim como as crônicas, as poesias, os romances e a literatura de um modo geral, são, muitos deles, uma modalidade de expressão escrita; podem ser, também, uma modalidade de expressão imagética, como aqueles nos quais se desenha (e me lembro de você, naquele jogo de desenhar). Ou nos quais se permutam gifts, que são também elementos imagéticos a permitir a expressão de conteúdos, valores, padrões estéticos, desejos, aspirações, a própria identidade etc. Em suma, os jogos seriam uma revolução em termos de comunicação e expressão. Parece-me, inclusive, que foram além de substituirem a comunicação através de postagens em blogs pessoais e inclusive em microblogs, já que seus recursos de expressão transcendem a linguagem escrita - vai lá saber se um dia, nos departamentos de língua e literatura inglesas, FarmVille não venha a ser o tema de algumas teses e dissertações, tanto quanto Shakespeare! :P

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