[16 de maio de 2011]
Orkut x Facebook: De novo
Ontem respondi uma entrevista que me perguntava o que eu achava que aconteceria com o Facebook no Brasil. O que vai acontecer, eu não sei. Mas posso dizer isso: Jamais teremos outro "fenômeno Orkut" no Brasil, em termos de sites de rede social (SRSs). O Orkut é fascinante porque foi único. Porque chegou num momento onde os brasileiros tinham pouca ou nenhuma experiência com sites de rede social e criou um contexto único, de participação. Porque o Orkut foi um dos "marcos" da Internet no Brasil, com efeitos não apenas na inclusão digital e na "alfabetização" para a Internet de toda uma população, mas no próprio uso da Internet no País. O Orkut foi o sistema certo no momento certo e é por isso que foi tão relevante para o País. Sim, foi. Agora não é mais? É sim, mas perdeu espaço. Perdeu espaço para outras ferramentas que apareceram depois. O brasileiro, mais entendido, também passou a experimentar outras coisas. Como o Twitter, por exemplo.
O Contexto para o Facebook
O Facebook entrou num país que já usava o Orkut, portanto, pegou outro contexto. E o contexto do crescimento do Facebook se dá em duas frentes:
- A primeira é a crescente preocupação para com a privacidade no Brasil. Com o "efeito mídia" das mazelas do Orkut, e a percepção de que não é tão interessante assim que todo mundo tenha acesso às informações que você publica online, as pessoas passaram a se preocupar no Orkut, deixando todas as informações mais privadas. O problema é, no entanto, que a principal apropriação do Orkut era adicionar todo mundo à sua rede. Então, mesmo se você deixar suas informações privadas, ainda assim, uma grande quantidade de pessoas "desconhecidas" vai ter acesso. O Facebook, aqui, oferece uma nova oportunidade, de começar sua rede do zero, mais low profile, adicionando menos pessoas. Ao contrário do Orkut, onde as pessoas pensavam em conhecer novas pessoas também, o Facebook entra num contexto de manter uma rede social próxima. Entretanto, para o brasileiro que apropriou SRSs no contexto "Orkut", esse voyerismo de saber da vida de quem você conhece só superficialmente continua sedutor. E as pessoas assim passam a apropriar o Facebook divididas: Querem ter amigos, mas querem limitar o acesso às suas informacões. Querem ver sem ser vistas.
- A segunda frente é a dos apps, de um modo especial, dos jogos. É inegável que os jogos do Facebook são extremamente interessantes para muitos. São jogos casuais, onde os benefícios aparecem rapidamente e com pouco tempo de jogo e são sociais, no sentido que atualizam a manutenção dos laços sociais. Mas não apenas os jogos. Outro fenômeno mais recente (na apropriação brasileira, claro) são os apps de "questionários" ou "entrevista", onde você fala dos seus amigos e espera que eles falem de você. (Reparem que esse foco na narrativa identitária já existia no Orkut, onde os brasileiros determinaram apropriações, como a das comunidades como elementos identitários e que falam ao próprio sucesso do BuddyPoke. E anteriormente a isso, já apareceram nos Fotologs, Blogs e na História Antiga, no IRC. É uma tendêcia forte na apropriação brasileira.) Essa diversidade de apps tanto pela quantidade de desenvolvedores quanto pelas própria valorização da ferramenta também é importante para a apropriação dos brasileiros. Há sim, apps legais no Orkut. Mas são minoria em comparação com o Facebook
O Facebook vai ser o novo Orkut?
Vejam, portanto, que a apropriação do Facebook é herdeira da apropriação do Orkut. É no contexto das falhas e construções de sentido do Orkut que o Facebook vem crescendo, na minha opinião. Mas isso não quer dizer que o Facebook vai "substituir" o Orkut. Até porque não há mais contexto pra isso. O tempo médio gasto no Orkut agora, dizem os institutos está em 4,6 horas por mês. Já foi maior. Mas é óbvio que essa redução vai existir. Há muito mais sites para ver, informação para buscar e concorrência para o Orkut. O Facebook abocanha apenas uma pequena parte do tempo disponível, que precisa dividir com Twitter, Orkut e outros. Portanto, não será, como com o Orkut, a grande atividade do brasileiro online. Porque há outras coisas agora. Além disso, não vejo, como já disse inúmeras vezes, uma migração em massa para o Facebook e a desertificação instantânea do Orkut. A tendência é que as pessoas dividam a atenção, criando perfis em ambos e utilizando ambos enquanto perceberem valor nos usos. Claro, o Orkut vem perdendo valor por conta da preocupação com a privacidade e outros fatores (como a falta de novidades, por exemplo). Mas dificilmente todos mundo vai sair do Orkut e passar para o Facebook, como alguns dizem. A menos que o Google decida por uma morte rápida e delete o Orkut.
Outros textos meus sobre o assunto:
Orkut x Facebook no Brasil (outubro de 2010)
Orkut x Facebook: Divisão de classes no Brasil(julho de 2010)
Orkut x Facebook no Brasil: Alguns apontamentos - (agosto 2009)
por raquel (08:05) [comentar este post]
Comentários
Gabriel Ishida (maio 16, 2011 9:05 AM) disse:
Oi Raquel, excelente post. Eu mesmo utilizo bem menos o Orkut, mas ainda encontro valor nele, como, por ex, o conteúdo demonstrado nas comunidades. No Facebook, percebo que há uma "individualidade" ou, no máximo, uma "dualidade" nas interações. No Orkut não, eu vejo que realmente existe um sentido de comunidade lá dentro, mesmo que muitas vezes a relação seja degradação de outras pessoas.
Abraços!
rodrigo matos (maio 16, 2011 10:58 AM) disse:
Olá Raquel. Muito sensato seu texto. posso postá-lo no blog da Uniagência - Agência Escola de Propaganda, Moda e Jornalismo da Universidade de Cuiabá?
Alessandro Guimarães (maio 16, 2011 11:00 AM) disse:
Ótimo texto! Assunto que permite uma discussão interessante! Até que ponto os brasileiros estarão dispostos à dividirem seu tempo com as redes sociais?!
Marcelo Hayashi (maio 16, 2011 11:37 AM) disse:
Raquel,
Achei o texto perfeito, assim como uma nova mídia não substitui a outra, apenas ocupa seu espaço (caso consagrado da disputa da Internet x TV x Rádio x Jornal), a batalha dos SRSs, de fato, não está em quem vai substituir quem, e sim o quanto tempo de atenção uma pessoa dá a uma e à outra. A partir daí, tem que ver o quanto interessante é para as partes concorrentes ampliar investimentos (Facebook) ou manter funcionando (Google-Orkut), na balança do ROI.
Por outro lado, acho um pecado você não falar em uma terceira frente, que seria a utilização de dispositivos móveis como meio de acesso aos SRSs. O Facebook também ganha terreno porque a popularização dos smartphones está acontecendo no Brasil, e enquanto o site é por vezes de difícil configuração, o App de acesso celular é fácil, rápido e prático, contra um Orkut que, mesmo no OS (Android) desenvolvido pelo seu próprio dono (Google), não tem algumas das principais funções do site, e no Market a maioria das opiniões das pessoas o julga como ruim.
Luciano Fontes (maio 16, 2011 11:51 AM) disse:
Fiz uma conta no Orkut.. mas o negocio era tao ruim q nunca usei...
Ja faz uns 3 anos q uso twitter e a uns 2 o Facebook..
Acredito q o Google vai descontinuar o orkut.. criar uma nova rede pra poder chegar perto do FB... Orku soh eh usado no Brasil.. sempre foi... Pro resto do mundo ele nunca existiu.... soh na india e brasil... 3o mundo...
Por mim podia continuar a galera no orkut... pq essa orkutizacao no Twitter e no FB eh complicado...
A criacao do termo Orkutizacao ja diz tudo... entao.. vcs do Orkut... fiquem la por favor... nao se espalhem... ok? valeu.. obrigado..
Marcel Mouta (maio 16, 2011 11:53 AM) disse:
Raquel,
concordo com cada palavra e tenho uma teoria, baseada na inclusão digital, quanto à morte do orkut.
Estudo da FGV, em 2012, podemos chegar a 100 milhões de computadores, segundo estimativas. Em sua maioria, esses computadores serão de usuários das classe C e D, ou seja, internautas que acessam via lan house ou casas de amigos/parentes.
O que influencia?
Teoricamente, o tempo médio do orkut aumentará, novos perfis serão visitados e "fuxicadas", outro tipo de utilização será conhecido (sem muita pressa) e estes se tornarão influentes na indicação de novos usuários para rede. Afinal, nós vamos para onde nossos amigos estão.
Muito bom o texto!
Abraço,
Marcel Mouta
Diego (maio 16, 2011 12:00 PM) disse:
A tendência, pelo menos de quem eu conheço está ficando da seguinte forme:
No orkut você entra, vê se tem alguma mensagem pra você e sai..... simples assim.....
O face você entra e deixa ligado até a hora que você desligar o computador
Carlos Vieira (maio 16, 2011 12:03 PM) disse:
falta no blog, a opão curti...
Rogerio Fratin (maio 16, 2011 12:57 PM) disse:
Oi, Raquel.
Muito boa tua análise, adorei!
[ ]s!
Marcos Masini (maio 17, 2011 11:48 AM) disse:
Olá, Raquel.
O Orkut perdeu forças em uma outra função que também era importante no início: as comunidades.
Eu mesmo estou "afiliado" a várias e participava de um bom número. Hoje elas estão exposta lá só como "vitrine de gosto disso".
O Orkut está sendo utilizado com a mesma característica do Facebook, ou seja, das atualização que ocorrem no perfil.
[ ]'s
Caroline (maio 17, 2011 12:12 PM) disse:
Parabéns!! Adorei teu texto!
Mariela Castro (maio 17, 2011 12:18 PM) disse:
Olá Raquel,
tem um outro ponto nessa discussão sobre Orkut x Facebook. Há tempos você mencionou o fenômeno de "favelização" do Orkut. Mas acho que a migração das classes A e B para o Facebook não foi fruto apenas da privacidade e da segurança (o Facebook também nos expõe um bocado e acho que cada pessoa é que deve estabelecer seu grau de exposição controlando também o que posta em texto, foto ou vídeo).
O Facebook é, digamos assim, "internacional". Você pode retomar contato com um amigo que mora na Nova Zelândia ou na França. No Orkut, no máximo você acha um colega de escola - no Brasil. Só tem brasileiro no Orkut.
O Facebook, inicialmente, era apenas em inglês, o que já afastou também as classes menos favorecidas. Que também não têm amigos no exterior. Que não vão fazer parte de comunidades de alumni de faculdades americanas, que não vão acessar o FB do seu iPad ou iPhone. Que usam o Orkut na lan house pra marcar a balada da noite.
Enfim, acho que houve três fenômenos aí:
1) a classe C passou a navegar muito mais, seja em lan houses seja em casa, em computadores comprados em 20 prestações nas Casas Bahia. Destino natural? Orkut. Mais fácil, mais simples, mais conhecido.
2) As classes A e B têm essa ânsia de serem cosmopolitas, manterem-se em contato com o mundo. É um relacionamento social diferente, com outras expectativas. O Facebook tem alcance mundial.
3) A classe C quer se sentir confortável no seu ambiente. Quer encontrar os seus amigos. Eles estão confortáveis no Orkut porque todos eles estão lá. É um comportamento de massa. E só tem brasileiro.
Enfim, tema para horas e horas de conversa...
Muito bom o seu post, e suas análises sobre mídias sociais de modo geral. Às vezes não concordo com uma coisa ou outra, mas respeito muito o seu trabalho.
abraços! Mariela
Daniel (maio 17, 2011 8:18 PM) disse:
Muito boa a análise. E é exatamente a mesma coisa que penso. Vejo muitos amigos atualmente menosprezando o Orkut, mas esquecem que foi graças ao Orkut que aprenderam a lidar com redes sociais. Outra questão que me chama a atenção é se realmente o Orkut estaria tão em baixa. Bastou o Inter vencer o Gauchão que novas comunidades foram criadas. "Grêmio é igual ao Bin Laden" em 1 dia de existência já contava com mais de 20 mil pessoas. Talvez logo seja abandonada, mas o apelo de participação ainda existe e bem forte.
E acho que a tendência é de convívio de ambas as redes. O Orkut mais focado em comunidades (e talvez aí uma oportunidade do Google explorar mais) e o Face em perfis. Quem curtia atualizar seu perfil no Orkut com fotos e comentários está se esbaldando no Facebook hoje em dia.
Itallo Victor (maio 18, 2011 10:23 AM) disse:
Raquel, seus textos são ótimos, sempre pontua bem sobre os assuntos e esclarece o panorama sem o radicalismo que as pessoas sempre comentam ao tratar sobre quem vai dominar o que. Abraço.
Diogo Madeira (maio 30, 2011 3:40 PM) disse:
Gostei da sua análise. Qualquer rede social nunca é segura em relação à privacidade do usuário.
Denis Santos (junho 9, 2011 11:41 PM) disse:
Facebook com certeza!
Manter duas redes sociais ativas é algo muito trabalhoso, então tive que decidir entre o Orkut ou o Facebook, então adeus foi para o ORKUT.
http://denissantos.wordpress.com/2011/03/08/adeus-orkut-seja-bem-vindo-facebook/
Fernando (junho 16, 2011 3:33 PM) disse:
Raquel, parabéns pela análise realizada no texto.
Mas tenho dúvidas se realmente o orkut oferece mais riscos à privacidade do que o facebook. Uma mensagem no mural de um amigo aparece na home dos contatos em comum, algo que não acontecia no orkut. Eu, pelo menos, não uso o facebook como plataforma pra comunicação direta... apenas para postagem de links e comentários de atualizações de contatos.
Um abraço!