[05 de março de 2009]

Pesquisa sobre o Twitter III - Credibilidade e Difusão de Informação

twitter.jpgJá comentei em várias ocasiões que uma das apropriações do Twitter (já identificados por vários trabalhos, entre eles Java et al., 2007) que parece mais relevante para o usuário Brasileiro é o uso informacional. Esse uso tem sido destacado pela apropriação do Twitter como uma ferramenta de feeds especializada. Isso quer dizer que um dos usos mais destacados é aquele onde os atores escolhem seguir não apenas os amigos, mas aqueles outros twitters que podem trazer informações relevantes a respeito de assuntos de seu interesse. Assim, a informação é especializada e de nicho, no sentido de que há uma busca pelas fontes que possam trazer informações novas para a rede social.

Esse uso informacional parece ter dois pontos importantes. O primeiro é a alta credibilidade atual das informações que são divulgadas no Twitter. Apesar de muitas URLs divulgadas ali serem "mascaradas" (para reduzir o número de caracteres), ou seja, URLs que não se sabe para onde vão, há um alto índice de confiabilidade nelas. Na pesquisa que eu e a Gabriela Zago fizemos, observamos, por exemplo, que 94% dos respondentes afirmaram que costumavam clicar nas URLs divulgadas no Twitter. Mais do que isso, 88% costuma passar adiante essas informações para outras redes sociais. O segundo é a apropriação do Twitter como fonte de influência.

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No gráfico acima, as respostas à questão "Você costuma clicar nos links que são divulgados no Twitter?" (Recuero e Zago, 2009).

Essa confiabilidade, que ainda é uma força, foi confirmada e abalada por um recente episódio de "clickjacking". Através de um tweet com um link que dizia "don't click", várias pessoas foram "infectadas" por um código malicioso que se auto-replicava (fazendo com que você publicasse, sem querer, um tweet com a mesma mensagem, infectando sua rede social). A brincadeira - que felizmente não foi de maiores conseqüências - explorava uma falha no próprio sistema e, justamente, a confiabilidade dos links divulgados no Twitter. Ao mesmo tempo, a fantástica difusão do código malicioso do "don't click" aponta para um expressivo poder de influência dos usuários do Twitter dentro do próprio twitter.

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Vemos no gráfico o aumento exponencial de citações da URL do clickjacking. (Imagem acima retirada do post da Sunlight Labs sobre o clickjacking.)

Essa influência pode ser ampliada para outros espaços, onde as redes sociais são diferentes. Vejam, outro exemplo, que a maioria dos usuários brasileiros que participaram da pesquisa utilizam outras redes sociais como blogs, fotologs, flickrs e etc. Com isso, é razoável supor que muitas das informações cujo contato esses atores têm primeiro no Twitter é espalhada para outros veículos, como blogs, por exemplo. Aliás, 79% dos respondentes apontou que já ficou sabendo primeiro de uma notícia no Twitter. Finalmente, o último dado que aponta para essa questão está no fato de que a maioria dos respondentes: 95% apontou que sua rede social no Twitter é diferente ou parcialmente diferente de outras ferramentas sociais. Ora, se as redes são diferentes, como já apontei em outro post, multiplica-se o valor da informação "nova" obtida no Twitter e replicada nos outros sistemas.

Esses elementos apontam para o Twitter como uma ferramenta que é valorizada pela qualidade e instantaneidade de suas informações. Apontam para o Twitter como uma ferramenta de nicho, onde as informações são obtidas para que sejam replicadas em outras redes. Isso poderia implicar, por exemplo, numa grande valorização do sistema como um lugar onde as trends estão sendo desenvolvidas e um lugar onde talvez seja possível medir elementos que vão impactar no restante da Web social dali a alguns dias. Ou seja, a influência do Twitter se daria menos pela quantidade de usuários e mais pela qualidade deles. Acho que aqui é que está a principal característica diferencial do Twitter: ele não é apenas um espaço social. Ele é o primeiro sistema que junta essa questão social com a questão informacional. Ali as informações são mais valorizadas justamente por estarem imbuídas de julgamento de valor, de filtros, da própria rede social. Ou seja, o Twitter é o primeiro site de rede social onde a informação é tão valorizada quanto seu aspecto social (e daí porque eu acho que é tão diferente de outros sites como o Facebook, o Orkut, etc.). É o primeiro onde a apropriação cria um canal para a informação e para os filtros da própria rede social. Por isso que seu potencial para a mídia é tão relevante.
por raquel (08:14) [comentar este post]


Comentários

@alessioalionco (março 5, 2009 10:49 AM) disse:

Oi Raquel,

Pesquisando mais sobre essa troca de informação com características relevantes mas com foco voltado para troca de informação sobre consumo de produtos e serviços é interessante que isso ocorre em menor grau nas redes sociais já existentes, mas sempre em menor escala e como um objetivo secundário.

As comunidades do orkut muitas vezes possuem vários "how-to" desenvolvidos por usuários para os mais variados tipos assunto. Desde como instalar softwares em celulares a roteiros de viagem. Tenho amigos que recém viajaram para o Peru e disseram que a melhor fonte de dicas que tiveram para programar a viagem foram comunidades do Orkut. Obtiveram informações como melhor lugar para visitar, comer dormir, conversar com outros que já foram e etc.

Há alguns gadgets do Facebook que estão também começando a tentar desenvolver mais esse objetivo como o Iendorse.com - aplicativo onde usuários votam nos melhores prestadores de serviços.

Creio que o twitter no Brasil, não sei qual é a realidade fora, ainda está restrito com a pauta dos usuários mais voltada somente a trocas de informação do meio online, links, inovação e outros. Já começa a existir casos no Twitter, como o da menina carioca que denunciou uma clínica de estética [http://tinyurl.com/dxqr5r], mas a grande maioria do conteúdo circulado é tecnológico.

É interessante que essa troca de informação relevante também inicie em outros campos, principalmente os ligados a consumo de bens e serviços pelo fato de ser o que faz a economia acontecer e também pela necessidade de haver mais um meio além de blogs e foruns onde os usuários consigam trocar informação em um campo neutro.

Entretanto, não sei se o Twitter seria o local mais indicado para esse tipo de troca de informação... Talvez houvesse a necessidade dessa troca ocorrer em uma outra nova rede social com esse foco?

Você sabe de alguma iniciativa parecida?

Luísa Barwinski (março 5, 2009 10:26 PM) disse:

Olá Raquel,

Tudo bem? Fiquei muito contente por encontrar o seu blog. Sou aluna do último ano de jornalismo em Curitiba e meu Trabalho de Conclusão de Curso é sobre blogs e mídias sociais. Encontrei seu artigo sobre o assunto na BOCC e devo dizer que caiu como uma luva para a minha fundamentação teórica (em fase de produção ainda).

Quanto a esta pesquisa sobre o Twitter, sem dúvida é muitíssimo interessante! Aproveitando este gancho, gostaria de lhe fazer uma pergunta: Já existe algum dado sobre o número de usuários no Brasil?

Já adicionei o Social Media aos meus favoritos =)

Até mais,

Luísa

João Baptista SF Lago (março 6, 2009 7:10 PM) disse:

Se o twitter seria fonte privilegiada de informações, não posso deixar de ficar curioso sobre como seria o uso que seus usuários fariam de ferramentas sociais no sentido estrito do termo (Orkut, FB et alii); elas ficariam um pouco esvaziadas para os tuiteiros? E neste caso com finalidades quase puramente relacionais? O mesmo em relação às suas comus e groups: além de possuírem a finalidade de compor uma persona (e não, serem usadas de fato), qdo alguém no twitter precisa de uma informação que foge às especificidades temáticas dee sua rede, simplesmente tuita, p.ex: "onde posso comprar tal coisa?", "povo do lugar tal, me sugiram 1 hotel barato pra me hospedar?". Usuários do Twitter, assim, seriam menos propensos, talvez, a buscar infos em outras ferramentas? É nesse contexto q deve ser interpretado o boato q foi o ti-ti-ti desta semana, segundo o qual o Google estaria interessado em comprar o Twitter: que, segundo analistas europeus, estaria provocando redução do uso do Google enquanto search engine. Pelo mesmo motivo, o Twitter foi cortejado pelo CEO do FB.

raquel (março 9, 2009 12:29 PM) disse:

Não sei, JB. Por enquanto, acho que é menos usado para socialização, mas mais usado para infos. Mas acho que com uma apropriação em massa pode modar isso sim... mas a ferramenta não tem elementos para seguir contexto, manejar pessoas que falam de vc ou com vc, etc.

raquel (março 9, 2009 12:30 PM) disse:

Oi Luisa! Obrigada pelo comment! :)

raquel (março 9, 2009 12:32 PM) disse:

Oi Alessia!
Acho que tens razão. :) Acho que o diferencial do Twitter é também o ruído e o "filtro social". Não sei de nenhuma ferramenta parecida não.

Carol Terra (março 9, 2009 1:21 PM) disse:

Raquel, queria dar uma sugestão: coloca no seu blog um formato de impressão para cada post. Gostamos mto do que vc escreve e mtas vezes, quero imprimir...abraços.

raquel (março 17, 2009 8:50 AM) disse:

Oi Carol!

Vou pensar nisso. Assim que tiver um tempinho. :D

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