[12 de abril de 2009]
Pesquisa sobre o Twitter IV - Tipos de Rede
Já comentei no primeiro post sobre a pesquisa que identificamos dois usos mais comuns da ferramenta no Brasil: o uso para conversação e o uso para informação. No primeiro caso, relacionamos o uso com um valor de fundo relacional, onde os atores pretendem socialização, construção e aprofundamento dos laços sociais; no segundo, relacionamos o valor com a busca pela informação, mais do que pela simples socialização. Ou seja, buscamos relacionar as apropriações da ferramenta com o capital social que era percebido pelos atores nela. Observamos, assim, que dentre esses dois grandes valores, outros valores "menores", que estão dentro das duas grandes apropriações.
![tabela1.jpg](http://www.pontomidia.com.br/raquel/imagens/tabela1.jpg)
Na tabela acima, vemos uma divisão esquemática dos valores observados nas duas apropriações. (Fonte: Recuero & Zago, 2009)
Assim, procuramos observar como esses valores percebidos pelos atores influenciavam a criação das redes sociais. A partir de uma rede ego-centrada, mapeamos três redes:
- Rede de Seguidos - É uma rede de filiação cujo valor está em si enquanto fonte de informações. Seu valor está na quantidade e na qualidade de informações publicadas. Tende a ser menor que a rede de seguidores porque esta também está relacionada com a capacidade do ator de acompanhar as informações publicadas. Assim, se um determinado ator seguir, digamos, 10 mil pessoas, ele perderá grande parte do valor da rede, que é o acesso à informação, pois grande parte das informações relevantes estará perdida em meio ao "mar" de informações. Nesse caso, informação demais torna-se ruído.
- Rede de Seguidores - É uma rede de filiação que está relacionada com valores como reputação, popularidade, visibilidade e influência. São os seguidores que poderiam indicar o quão relevante é a informação publicada por um determinado ator (embora o indicador não seja o número de seguidores, mas o impacto da mensagem,através de retweets e republicações em outras redes). Embora o número de seguidores não seja um bom indicativo dos valores, os atores percebem que esse número é, em si, um valor e gostam de ter mais e mais seguidores. Dentre os respondentes do questionário que aplicamos, por exemplo, a expressiva maioria indicava que escolhia pessoas para seguir cujas informações publicadas fossem relevantes.
- Rede de Conversações - É a terceira rede. É a rede emergente, ou seja, a rede cujo valor é social-relacional. Ao contrário das redes anteriores, é uma rede bem menor (por exemplo, observamos aqui no ator estudado, uma rede de apenas 99 atores). Como nessa rede, o valor principal está nas relações estabelecidas com os demais atores, na complexificação da rede social, ela tende a ser menor, pois é preciso mais investimento de tempo e atenção. Como o Twitter não é facilmente apropriado para conversação devido à própria estrutura da ferramenta (timeline única, sistema de replies), que valoriza a sincronicidade, há talvez uma dificuldade maior nesse sentido.
![redeseguidos.jpg](http://www.pontomidia.com.br/raquel/imagens/redeseguidos.jpg)
Na imagem acima, uma rede de seguidos que mapeamos a partir do ego (em vermelho). Fonte: Recuero & Zago (2009).
![redeseguidores.jpg](http://www.pontomidia.com.br/raquel/imagens/redeseguidores.jpg)
Na imagem, a rede de seguidos do mesmo ego (em vermelho). Fonte: Recuero & Zago (2009).
![redeconversacao.jpg](http://www.pontomidia.com.br/raquel/imagens/redeconversacao.jpg)
Na imagem, vemos a rede de conversações do mesmo ego (em vermelho). Os nós em azul são aqueles que não são seguidos por ego ou seguidores de ego. Fonte: Recuero & Zago (2009).
Embora os tipos de rede que elencamos acima estejam simplificados em relação ao que foi desenvolvido no artigo, e sejam um tanto o quanto óbvios, é preciso demarcar um ponto importante: Há várias redes dentro da mesma rede no Twitter. Cada uma das redes sociais que observamos aqui possui características diferentes (tamanho, clusterização, tríades e etc.) e por possuir características diferentes, é produto de uma apropriação diferente. Assim, enquanto as redes de filiação têm um caráter mais informacional, a rede emergente é mais conversacional. E as três coexistem no mesmo espaço. Além disso, como procuramos demonstrar, as três redes provêm valores diferentes para cada ator. E por isso, todas importam para os atores que estão apropriando a ferramenta.
Outros posts sobre a pesquisa:
Para quem não acompanhou a seqüência de posts sobre os resultados da pesquisa, aqui vai:
Pesquisa sobre o Twitter I - Apontamentos iniciais sobre a apropriação como ferramenta informacional (e de difusão de informações) e o universo de respondentes.
Pesquisa sobre o Twitter II - Uma perspectiva mais quantitativa em cima da amostra do questionário.
Pesquisa sobre o Twitter III - Credibilidade e difusão de informações - Discussão do uso do Twitter para difundir informações e o valor que é construído em cima disso.
por raquel (21:23) [comentar este post]
Comentários
João Baptista SF Lago (abril 13, 2009 1:03 AM) disse:
Dei uma espiada no artigo de vocês no site da Compós e, além de ter gostado muito (devo a você e à Gabriela, meus movimentos no sentido de fazer uma reflexão sobre meu próprio uso e vivência em redes sociais), há algo que achei interessante: este artigo está epistemológicamente coerente por se basear, em seu todo, numa tradição norte-americana. Em outros termos, quero dizer o seguinte: não dá para colocar junto na mesma pesquisa, de um lado, Bourdieu e, de outro lado, Putman e Coleman: pois representam modos diferentes de perceber e escrever sobre conceitos estratégicos, como "Capital Social" (que para europeus é uma coisa e para franceses, é outra coisa)dentre outros. Um segundo aspecto é que, se a contribuição teórica destes autores forem como peças que se encaixam com outras peças de autores de outras áreas, o que a Sociologia norte-americana produz em geral se casa com a sua Psicologia (como a comportamental-Cognitiva de Goleman) e o mesmo, em relação à Sociologia de Bourdieu, cujas peças se encaixam perfeitamente ao Marxismo e à Psicanálise. São tradições culturais, filosóficas e científicas distintas e acho que, neste trabalho, vocês foram epistemológicamente coerentes ao optar por uma delas. De todo modo, ainda bem que vivemos no Brasil: que, por ser Colônia e ainda se espelhar no que é produzido na Metrópole, por isso mesmo não possui filiação e, por não possuir filiação própria, se apropria e utiliza, de tradições diferentes: a européia de um lado e a norte-americana, de outro. Isso não é bom de um lado, porque reproduzimos; mas sob outro ângulo é ótimo, porque também podemos enxergar o mundo através de duas óticas distintas; adorei o artigo de vocês, por estar excelente numa dessas duas óticas.
raquel (abril 13, 2009 10:32 AM) disse:
Oi João! :D
Adorei o comentário. Só que é uma looonga discussão, vou deixar pra gente discutir pessoalmente na Compós. hahahahaha :D
Marcus Vidal (abril 13, 2009 4:02 PM) disse:
Raquel:
Excelente! Estamos trabalhando tudo isso aqui em Curitiba, na UP. Seu blog é tema das minhas aulas. Parabéns.
Abraço
Marcus Vidal
Marcus Vidal (abril 13, 2009 4:04 PM) disse:
Raquel:
Excelente! Estamos trabalhando tudo isso aqui em Curitiba, na UP. Seu blog é tema das minhas aulas. Parabéns.
Abraço
Marcus Vidal
Marcus Vidal (abril 13, 2009 4:05 PM) disse:
Raquel:
Excelente! Seu blog é tema das minhas aulas. Estamos usando para nossa pesquisa aqui em Curitiba. Mais uma vez, parabéns.
Abraço
Marcus Vidal