[20 de novembro de 2008]

Redes de Filiação e Redes Emergentes: Análise do Twitter

Uma das minhas propostas no meu atual projeto de pesquisa é discutir como a rede social analisada pode variar de acordo com o que se escolhe para mapeá-la nos sites de redes social. É com base nisso que eu propus que as conversações fossem usadas como forma de mapear o que eu chamei de rede emergente, que seria diferente da rede de filiação. Assim, enquanto a rede emergente é aquela que está viva, presente nas interações dos atores sociais, sendo construída e modificada enquanto as interações acontecem, a rede de filiação é estática, tem maior durabilidade e é resultado de interações sociais que são apenas possíveis na rede: Aquelas onde você pode adicionar um amigo e ele permanece lá para sempre, a menos que delete o perfil ou que você o delete.

Mas como assim?
Imaginemos, por exemplo, o Twitter. Eu tenho lá 604 seguidores e sigo 264 twitters. Dentre aqueles que eu sigo e que me seguem, o que poderia indicar uma reciprocidade no laço social, tenho 50 pessoas que não me seguem (ou seja, há reciprocidade apenas com 214). Assim, se eu montar minha rede social baseada em quem me segue e quem eu sigo no Twitter, tenho o seguinte mapa, que constitui minha rede de filiação (via TweetWheel.)

wheel.jpg

Já se eu observar apenas as pessoas com quem falei publicamente no Twitter (usei a "@"), o universo fica ainda menor. Dos meus 2049 tweets (so far), apenas 1/3 deles (pouco mais de 600) são falas direcionadas a algum ator. Essas conversações (pelo menos duas interações) estão concentradas em 103 twitters, dos quais 55 possuem mais de 2 conversações (dois espaços temporais distintos). Ou seja, se eu mapear a rede com base nas pessoas com as quais eu efetivamente interjao no Twitter, terei uma rede bem menor e mais ativa, com menos tweet trocados.

interacoes.jpg
No gráfico, as pessoas com quem eu conversei até hoje no Twitter.


Ou seja, se analisarmos minha rede unicamente através de seguidores e seguidos, temos uma rede imensa, a qual dificilmente poderia refletir uma rede social de forma estrita (até porque há um limite nos investimentos de tempo e sentimentos que conseguimos fazer em atores sociais). Se analisarmos as conversações, por outro lado, temos a esfera de indivíduos que realmente está interagindo comigo no Twitter. Ou seja, temos a minha rede emergente.

Mas o que isso significa?
A rede emergente, por exemplo, pode me auxiliar a compreender, por exemplo, a minha influência no Twitter. As pessoas que respondem ou que falam comigo são aquelas que parecem responder às interações que eu proponho no sistema e que vão iniciar/responder a informações que eu coloco ali. É claro que uma boa parte das respostas depende do modo através do qual eu utilizo o sistema. Como a maior parte dos meus tweets é pouco "conversacional", no sentido que são informações, links e etc., talvez a minha rede emergente no twitter seja menor por conta disso. Já atores que utilizam o Twitter de forma mais conversacional (assuntos mais cotidianos), podem obter um maior número de respostas e conversações, bem como atores que investem mais tempo na ferramenta. Outro elemento interessante é que a maior parte das minhas conversações no Twitter dura poucas interações, ou seja, possui baixa persistência. Talvez porque a interface do Twitter seja pouco propícia para a conversação, como falei no post abaixo.

É importante ressaltar que o Twitter tem um forte componente de visibilidade. Para receber e interagir de forma conversacional, muitas vezes, é preciso dividir o que Marcuschi chama de "identidade temporal", ou seja, é preciso estar presente online ao mesmo tempo em que os demais atores, e nem sempre todos estão online para interagir no Twitter. A presença é um forte componente para a coerência conversacional online.

E o que podemos discutir aqui?
Esses elementos podem indicar que as redes emergentes poderão ser menores no Twitter justamente devido às dificuldades para manter uma conversação mais aprofundada. No entanto, as redes emergentes nesse sistema podem auxiliar a perceber elementos como a influência de um ator e sua capacidade em gerar feedback dos demais, em contrapartida a uma mera medida da rede de filiação, que por outro lado, pode indicar a abrangência dos tweets feitos pelo ator e sua popularidade em relação à rede.

Utilizei o Twitter Charts e o Tweetstats para ajudar a coletar os dados pra esse post.
por raquel (11:18) [comentar este post]


Comentários

adriamaral (novembro 20, 2008 2:33 PM) disse:

poxa, nao apareço nesse gráfico, mas tu fala comigo rs

depois q eu voltar da reuniao vou postar a rede do Last.fm e continuar a discussão por aqui
bjo

Raquel (novembro 21, 2008 7:00 AM) disse:

Tu ta sim, eh o primeiro. É que não coloquei os nomes de todas as colunas.

Vinicius Moreira (novembro 21, 2008 9:26 PM) disse:

Otimo artigo Raquel, desconhecia essas ferramentas de analise para o twitter!
da pra brincar um pouco!!
: )

Charô (novembro 22, 2008 10:05 AM) disse:

Uma pergunta (até básica) mas... As pessoas geralmente analisam pelos números. Então uma pessoa que por exemplo, segue apenas 20 pessoas e é eguida por 2000, influencia mas não e relaciona com as pessoas? É isso?

Raquel (novembro 22, 2008 1:46 PM) disse:

Charô,
Eu acho justamernte o oposto. Quem tem muitos seguidores é popular, mas não é, necessariamente, um influenciador. A minha idéia é que é preciso medir a conversação para entender a influência. :)

Charô (novembro 23, 2008 7:06 PM) disse:

Oi, estou perguntando por realmente não saber. :)Obrigada pela resposta.

Fabíola Gerbase (novembro 24, 2008 2:29 AM) disse:

Olá Raquel,
sou do jornal o Globo, do Rio de Janeiro, e estou iniciando a apuração para uma matéria sobre a internet como espaço de expressão de sentimentos e trocas. Acredito que uma entrevista com você poderia enriquecer bastante a abordagem, se for possível. Desculpe usar o espaço do comentário do seu blog para estabelecer este contato, mas não tenho o seu email.
Estou pesquisando o twistori, que permite o "monitoramento" dos sentimentos expressados no twitter, catalogando e reproduzindo mensagens com "I hate" ou "I love", por exemplo. Acompanho sua pesquisa sobre redes sociais, webring e, com mais atenção, sobre blogs e vejo que tem se dedicado também a análises sobre o twitter, além de já ter feito estudos aprofundados sobre o Orkut.
Seria possível entrarmos em contato para uma entrevista? Poderia me passar o seu email?

Muito grata,
abraço, Fabíola.

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