[26 de agosto de 2009]

Redes Sociais online x Redes sociais offline

socialnet.jpgDurante algum tempo, foquei minha pesquisa em tentar compreender se as redes sociais na Internet refletiam as redes sociais fora dela. Meu objetivo era entender se podemos compreender o grupo social a que alguém pertence a partir das conversações na Internet e como essas conversações podem refletir-se, em retorno, nesses grupos. Depois de ter estudado uma série de ferramentas e sua apropriação, compreendi que as redes sociais online são essencialmente diferentes das offline, embora possam refletir estas de forma parcial.

Por exemplo, a rede social de um determinado ator no Orkut não reflete sua rede social offline. Aqueles que estudam o assunto provavelmente vão concordar comigo. Enquanto no Orkut podemos "adicionar" pessoas que mal conhecemos como "amigas" e elas automaticamente têm acesso às nossas informações, fotografias e mundo "privado", o mesmo não é verdadeiro no mundo offline. Inclusive, quando entrevistava muitos usuários do Orkut, vários reconheciam, inclusive, que nem "oi" davam a muitos de seus "amigos" na ferramenta, alegando que há muita gente na lista. É verdade. No mundo offline, ninguém tem mil amigos. Aliás, se alguém tiver mil conhecidos, será já alguém fora da média em termos de popularidade. Mas isso nem sempre é verdadeiro. Em outras ferramentas, como o Fotolog, por exemplo, as coisas eram diferentes. Via-se um esforço claro de muitos atores com os quais conversei, em reduzir seu número de conexões, procurando deixá-las mais próximas de suas redes offline. Com isso, muitos afirmavam que o fotolog era "para os amigos".

Vejam, embora tenhamos aqui dois sites que abrigam redes sociais, temos dois modos de apropriação diferentes, que vão ser refletidos nessas redes. Enquanto as redes dos atores a que me referi no Orkut serão maiores, por exemplo, daqueles do Fotolog serão menores. Isso depende da apropriação da ferramenta técnica pelo grupo social. O que quero dizer, assim, é que a apropriação dos atores faz com que as tecnologias sejam significadas dentro dos grupos sociais e que essa apropriação é diferenciada e baseada na percepção, desses grupos, dos valores de cada ferramenta. Um mesmo ator, assim, provavelmente poderá ter um fotolog, um blog, um twitter e etc., cada qual com um tipo de apropriação diferente e com um reflexo diferente de sua rede social. Por exemplo, este ator poderá utilizar o fotolog como ferramenta para conversar com os amigos (laços fortes); o orkut como um modo de manter contato com conhecidos e falar de si (laços fracos); o blog como um relato de si mesmo para todos e etc. Assim, em cada ferramenta, veremos aspectos diferentes de diferentes redes sociais de um mesmo indivíduo.

Assim, as redes sociais na Internet não deveriam ser vistas como um reflexo completo das redes sociais offline, mas como desveladoras de vários aspectos destas e como complexificadoras de seu espaço de atuação. É inegável que a apropriação das ferramentas vai afetar as redes sociais offline, pois há maior espaço de circulação de informações, por conta da maior clusterização das redes online e da maior conectividade. Além disso, o espaço online permite que as redes fiquem em permanente conexão, influenciando também os valores que circulam nessas redes e a percepção dos atores destes. A mim parece fundamental que essa pequena diferença seja vista de forma clara nas pesquisas e trabalhos que focam o tema: redes sociais online e offline são, sim, diferentes.
por raquel (08:44) [comentar este post]


Comentários

Jéssica (agosto 26, 2009 10:21 AM) disse:

Estudo Ciências Sociais na Universidade Federal de São Paulo e meu interesse é justamente o mesmo que o seu. Até que ponto podemos considerar as redes socais via net como uma representação da vida não virtual do indivíduo. O que tenho observado é que as pessoas constroem dentro do leque de possibilidades delas diferentes identidades, inclusive no âmbito virtual.

Adorei seu texto.

Sabiá (agosto 26, 2009 10:46 AM) disse:

Então por que cada vez mais usamos tais redes para analisar as pessoas?

Luciano Palma (agosto 26, 2009 10:57 AM) disse:

Olá Raquel. Gostei de sua análise. De fato quando as tecnologias oferecem novas possibilidades, as pessoas passam a ter horizontes estendidos, até mesmo para mudar seu comportamento. Assim foi com o telefone, assim foi com a televisão, assim está sendo com a Internet.
A parte que acho mais legal é que a tecnologia está sendo um facilitador para as pessoas se expressarem e interagirem da forma que elas mais se identificam (acho legal porque trabalho na área) :).
E será que essa "diferença" entre redes não existe simplesmente pelo fato do mundo ofline não permitir o tipo de interação que o mundo online permite?

suzana (agosto 26, 2009 3:29 PM) disse:

Olá Raquel, interessante o artigo. Me questiono apenas se as redes sociais seriam de fato separáveis em online e offline. Claro que cada uma tem suas direfenças e especificidades. Mas porque não também abordar redes sociais de um modo geral, sem uma separação específica? Meu ponto de vista parte do fato de que a vida online influencia a offline e vice-versa. O interessante sobre as redes online é o fato de que pode-se manter o "rastro" dos laços fortes e fracos, num movimento de "ambient awareness". Se antes perdíamos contato com o coleguinha do jardim de infância, hoje sabemos do seu paradeiro, se casou, se teve filhos etc. Como se acompanhássemos silenciosamente os passos daqueles que já fizeram parte de nossas vidas um dia, mas que não necessariamente fazem parte do mundo "real" atual.
Bem... o assunto é vasto! ;)
Abs!

Ana (agosto 26, 2009 4:24 PM) disse:

Olá Raquel! TUdo bem?
O meu trabalho de monografia tinha o tema bem relacionado com o seu: verificar se existe alternação de identidade em redes sociais online. E o que concluímos é bem semelhante com o que você comentou aí: não é que uma pessoa seja uma pessoa no orkut, seja outra no fotolog e seja outra no myspace (redes analisadas em meu trabalho) mas o que acontece é que existe um INTERESSE diferente em cada rede. Ou seja, se a pessoa quer ter amigos no orkut, ela vai colocar fotos, ter comentários e /ou participar de comunidades que ajudem ela a conseguir e ter esse objetivo.

Legal seu post. Me deu a ideia de fazer um post sobre isso no meu blog.

Até mais!

Valeu!

raquel (agosto 26, 2009 5:16 PM) disse:

Legal, Ana! Depois linka pra gente ler. :D

raquel (agosto 26, 2009 5:18 PM) disse:

Suzana: Excelente colocação. :) Acho que há algumas diferenças porque nem todos os laços expostos na Internet são também presentes no offline. Mas acho que existe uma questão bem complexa nisso, sim. Vamos ter que explorar isso mais. :)

Thaís Melo (agosto 26, 2009 7:21 PM) disse:

Boa noite Raquel!Estamos concluindo o Curso de Comunicação Social com ênfase em Publicidade e Propaganda no Centro Universitário São Camilo (Cachoeiro de Itapemirim – ES). Estamos a alguns dias acompanhando seus posts, pois tivemos como indicação em nossas orientações seu Livro "Redes Sociais na Internet" e percebemos que eles se aproximam do nosso tema de monografia que está intitulado "Mídias Sociais como Tendência na Publicidade”. Gostaríamos de saber se você teria algum e-mail onde possamos trocar informações para nos auxiliar neste trabalho de conclusão de curso, já que estamos utilizando sua bibliografia como referência. Aguardamos sua resposta. Desde já obrigada.

Thaís Melo (thata2809@gmail.com)
Laiza Mendes (laizamendes@yahoo.com.br)
Daniele Albernaz (danny_daf@hotmail.com)


Fabio Buss (agosto 28, 2009 11:46 AM) disse:

bem interessante!

acho que se ignorássemos as redes online, iríamos perceber o mesmo acontecendo nas diferentes redes.

o comportamento das pessoas inevitávelmente varia de uma rede pra outra. elas adaptam-se de forma diferente aos ambeientes, ou contextos, onde se relacionam: estudo, trabalho, os diversos grupos de amigos, etc.

Assim, tanto faz se é online ou offline, uma única rede social não deveria ser vista como um reflexo completo das demais redes.

Alexander Duarte (agosto 31, 2009 5:41 PM) disse:

Parabéns pelo foco que deu ao seu texto! Acredito fielmente em uma internet limpa, já para os próximos anos, onde provavelmente conseguiremos aproximar os interesses, tanto para redes on line quanto para as redes off line!

Alfoso f Kleinmayer Fh (agosto 31, 2009 5:42 PM) disse:

A convivência via NET são agradáveis, pois não temos intimidades diretamente, não interferem no nosso dia a dia, não espalham nossas deficiências, é só alegria.
A convivência pessoal no dia a dia sofre desgaste natural de presença, nem sempre estamos a fim de agradar ou ouvir quem está próximo.

Coradini (agosto 31, 2009 5:59 PM) disse:

Legal o artigo.

Temos que levar em conta também O QUE A PESSOA DESEJA TRANSMITIR nas redes sociais.

Eu, por exemplo, deixo meu orkut reservado para (poucos) amigos, mais na informalidade. Isso já muda em outras ferramentas sociais que utilizo (twitter, facebook, flickr, linkedin), onde foco mais a promoção do lado profissional.

Paulo Rená da Silva Santarém (agosto 31, 2009 7:15 PM) disse:

Raquel,

acho que mesmo as redes sociais offline (e elas são várias) não são iguais. Pense nos contatos de trabalho, de estudo, familiares, de amigos, de vizinhos etc. Cada uma é um âmbito social distinto, em que se assume uma persona distinta, também de acordo com a visão que o indivíduo tem desse ambiente social.

As redes virtuais são não apenas distintas cada uma entre si, mas seu uso são bastante distintos de pessoa para pessoa, e, para uma mesma pessoa, o uso de uma rede muda no tempo. O uso do orkut no início por cada pessoa não é o mesmo após alguns meses. Isso vale, creio, para quaisquer redes.

Suas ponderações são extremamente válidas e pertinentes, não me entenda mal.

Mas talvez elas partam de um suposto que não se sustenta: a igualdade entre ambientes offline e a igualdade entre ambientes offline. Cada ambiente é distinto.

Desculpe o excesso. Sou interessado na área, sob a perspectiva de que vivemos apenas uma rápida intensificação de uma comunicação não-presencial, nascida, no entanto, com a escrita. Escrevi algo aqui.

heitor (setembro 18, 2009 12:37 PM) disse:

Suas conclusões sobre como as redes sociais on-line e off-line são, especificamente, diferentes é importante para tratar as duas organizações de maneiras distintas.

É certo que uma afeta a outra, e que as redes sociais on-line não são necessariamente uma evolução da organização social em rede, que acontece na sociedade desde algumas remotas civilizações.

O errado é achar que uma elimina a outra. A sociedade se organiza em rede como forma de sustentar a comunidade, pelo menos eu entendo isso. Não sei se as redes sociais on-line criam capital social suficiente para o mesmo fim, sustentar a própria sociedade.

Interessante você considerar as diferenças entre as duas, não vejo o mesmo enfoque em outros autores.

Hélio Sassen Paz (setembro 24, 2009 7:42 PM) disse:

Raquel,

Basicamente, na minha dissertação, me certifiquei de que cada caso é um caso. Particularmente, minha praia necessariamente é analisar as relações que as pessoas estabelecem simultaneamente online e offline. Trocando em miúdos: a análise do uso em rede da ferramenta em si eu deixo pra ti. :)

Enfim... O que eu prefiro verificar é como a relação presencial interfere na relação online entre a mesma rede de atores.

Em termos de percepções acerca desse tipo de análise, estou mais próximo da Suzana e do Paulo Rená: independentemente da existência da internet ou da consideração de certas TICs como mídias sociais, todo nó está em uma tensão incessante entre o estabelecimento de mais ou menos laços ou entre o fortalecimento ou o enfraquecimento de todos os seus laços.

Isso parece óbvio, mas quando estamos falando em Orkut, Facebook, Twitter, Fotolog, YouTube, Flickr, LinkedIn, Last.FM, etc. as análises parecem muito frias e matemáticas. O lado do sujeito é pouco contemplado. E eu busco mais as relações de afeto e de trocas.

Diante disso (onde concordo bastante contigo), me parece que as diferenças qualitativas tendem a ser menores quando há uma maioria de pessoas pertencentes à mesma rede. Mas isso depende demais do lugar de onde vem esse grupo.

[]'s,
Hélio

Ana (outubro 5, 2009 3:38 PM) disse:

Oi Raquel!

Eu havia comentado ali em cima da minha monografia igual seu post.
Segue o link do meu post sobre esse tema:

http://escritosporana.wordpress.com/2009/09/18/voce-muda-de-identidade-de-uma-rede-social-para-outra/

Entra lá e dá uma olhadinha :)

beijos

Denise (outubro 15, 2009 6:23 PM) disse:

Estou fazendo o meu Trabalho de Conclusão da Faculdade de Marketing sobre como o Twiter pode auxiliar as empresas no relacionamento com seus consumidores.

Observei que muitas pessoas constroem no "mundo virtual" as redes de relacionamento que gostariam de ter no mundo real.
Na verdade, as redes primárias, secundárias continuam presentes no mundo real, porém nas redes sociais na Internet pessoas desconhecidas se tornam "amigas" ou "seguidoras" de outras participando da rede primária desta online.

Mesmo fazendo um trabalho sobre Twitter e relacionado a uma empresa específica, senti certa indiferença desta.

Acrdito que muitas empresas nacionais ainda não abriram as portas para as pesquisas de marketing nas redes sociais.

Raquel, na bibliografia estou citando seu livro Redes Sociais, que achei excelente!

Bjs!

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