[26 de setembro de 2011]

Sites de Rede Social na Educação (parte I)

saladeaula.jpgUm assunto sobre o qual eu tenho conversado muito, nos últimos tempos, é a respeito do uso dos sites de rede social (SRSs) como Twitter, Facebook, Orkut e etc. em ambientes e instituições escolares. Vejam, sou uma ferrenha defensora do uso dessas plataformas. Acho que elas já estão nas escolas, as escolas é que não estão nelas. E com alguma freqüência, converso sobre isso com colegas professores e educadores. Em cima desses debates, pensei em traçar aqui algumas linhas e sugerir algumas formas de uso desses sites em sala de aula.

Por que os Sites de Rede Social representam um novo paradigma?

Antes de mais nada, não gosto de falar de "redes sociais na educação". Porque pra mim, redes sociais são ambientes de educação desde que o mundo é mundo. Oras, a primeira e mais básica forma de aprendizado é a imitação. E só se imitam os outros, ou seja, a rede social. Todos aprendemos em conjunto, em grupo, em relação a outras pessoas. A questão é que a mediação do computador potencializou isso a um nível muito, muito grande. As redes sociais na Internet sim, representam um patamar diferenciado, pois são redes constituídas de elementos que não existiam antes, como aqueles explicitados pelo conceito de públicos em rede, debatido pela danah boyd (2007). Dentro dessa idéia há quatro elementos que são diferenciais no debate a respeito dos sites de rede social:
  • Persistência - As conversações e as interações que são publicadas permanecem, ficam armazenadas nos sistema, ao contrário das interações em grupo cotidianas (por exemplo, a fala), que desaparecem. Essa é uma mudança do paradigma da conversação.
  • Buscabilidade - As informações publicadas podem ser buscadas. Com isso, há informações mais facilmente acessíveis a qualquer pessoa na rede social. Aliada a persistência, essa característica também mostra que o conteúdo pode ser replicado.
  • Audiências Invisíveis - Aquilo que é publicado para um grau de amigos próximos pode ter um alcance imenso, pois redes sociais na Internet são interconectadas. Cada amigo tem seus próprios amigos que também podem ver essa informação e assim por diante. E isso faz com que o alcance das informações seja escalável.
Essas características mostram que o espaço dos SRSs não é apenas novo em termos de sociabilidade, mas ele também modifica formas fundamentais em cima das quais a interação social acontece. E por isso, modificam também os modos através dos quais aprendemos. Aprender em rede, portanto, é ter acesso a uma quantidade muito, muito maior de informações, disposta por audiências que nem sempre estão visíveis, com impactos muito mais globais e permanentes. Mas o que isso quer dizer para as práticas de aprendizado?

Aprender em Rede

Estar em rede, hoje, é estar permanentemente conectado a uma camada de informações que está perpetuamente mudando, o ciberespaço. As redes sociais, nesse ambiente, modulam essas informações, dando foco a coisas que parecem relevantes, filtrando coisas irrelevantes e compartilhando todo o tipo de coisa. Entretanto, boa parte desse foco está em informações que não são consideradas tão relevantes por escolas e educadores (como por exemplo, informações de humor). A questão é: Como podemos fazer essas redes circularem informações que sejam mais relevantes para ambientes escolares?Pensando nisso, proponho alguns passos estratégicos:

  • Entender a apropriação - Compreender o que os alunos fazem online. Entender seus usos e valores dos sites de rede social. Entender o que significa esse espaço é essencial para trazer outras formas de apropriação. Para isso, é preciso estar online também.
  • Criar novas formas de apropriação - Uma vez que consigamos entender quais são os valores, podemos reapropriar alguns elementos. Os alunos escrevem fanfictions e distribuem na rede? Então vamos convidá-los a escrever uma fiction colaborativa num blog ou mesmo no Twitter. Os alunos gostam de blogs de humor? Por que não trazer uma proposta de apropriação humorística de fatos históricos? O Orkut é um site de uso comum? Quem sabe usá-lo como espaço de discussão de sala de aula? Ou propor uma gincana ali para buscar uma determinada informação? Ou mesmo sugerir a criação de Tumblrs para dividir as coisas que foram encontradas pelos alunos nos exercícios. Criar mashups, propor a reinterpretação de coisas tradicionais e usá-las de forma criativa. Com o conhecimento do que é interessante e um pouco de criatividade, podemos mover montanhas.
  • Trazer os SRSs para a Escola - Nem tudo são flores na Internet. Mas é fundamental, na minha opinião, que as escolas não apenas tragam essas ferramentas para uso dentro do espaço institucional, mas que também proponham um debate a respeito. É preciso discutir, por exemplo, as novas fronteiras entre o que é público e o que é privado. É preciso conscientizar a respeito do que significa "publicar" na Internet. É preciso discutir os impactos dos sites de rede social no dia a dia. Assim, propor estratégias para debater, conscientizar e discutir essas ferramentas.
  • Usar os SRSs como aliados - Estar "oficialmente" nessas ferramentas e usá-las como espaços educativos e institucionais são escolhas fundamentais. A escola também precisa estar em rede. E isso significa conectar não apenas a comunidade dentro da escola, mas fora também. Criar grupos para discutir as estratégias em SRSs, conectar professores para troca de experiências, debater casos de sucesso e problemas. Podemos também aprender em grupo.Além disso, usar esses espaços como espaços institucionais, para fazer tarefas, temas, comunicar e etc, também é importante.
Não vou me alongar demais nesse post e vou continuar o assunto em outro. Mas apenas para dar algumas idéias que eu, particularmente, acho que são muito úteis e passíveis de ser "reinventadas" em sala de aula:

  • The Jane Austen Twitter Projetc - A proposta do projeto foi a de escrever uma ficção "estilo Jane Austen" no Twitter. Com um cenário pré-determinado e o auxílio do Google Docs, cada participante agendou sua entrada e cada um escreveu um pedacinho (ou vários) do conto. Com isso, demandou-se não apenas o conhecimento da obra da autora mas, igualmente, daquilo que outros já tinham escrito.
  • Criar um "perfil" no Facebook para o personagem favorito foi a estratégia que esse professor usou. Além de ter lido o livro, era necessário criatividade e interpretação para acrescentar "gostos" e informações de perfil.
  • Usar o Google Maps (ou o Google Earth) e o Twitter para estudar geografia? Foi o que esse professor fez. Convocou sua rede social a propor desafios de localização para que os alunos procurassem nessas ferramentas.
  • Nesse projeto, o professor desafiou os alunos a reescrever o diálogo entre Dante e Beatrice (no Inferno de Dante) no Twitter, repensando o contexto e o que seria dito pelos personagens.
E além dessas, há milhões de propostas, envolvendo não apenas o ensino fundamental, como todos os grupos e todas as disciplinas (até física e matemática!). Vejam fontes de idéias (em inglês):

100 maneiras inspiradoras de usar mídia social em sala de aula
Grupo Edudemic no Facebook
Blog Web 2.0 Teaching Tools
Edsocialmedia
Meu slideshare com algumas palestras sobre o assunto

por raquel (09:01) [comentar este post]


Comentários

João Damasio (setembro 26, 2011 10:31 AM) disse:

Gostei! Será que seriam necessários profissionais nas escolas para promover/coordenar atividades com internet e SRSs?
Acompanhei voluntariamente o laboratório de uma escola no interior de Goiás durante alguns meses e os professores simplesmente não entendem esta lógica. É medonho para eles até abrir outra coisa no laboratório se não for Word.
Na situação atual das escolas, não é possível atualizar-se com o mundo como a proposta demanda. Capacitar os professores é difícil. Os professores da escola que acompanhei fizeram 3 cursos de capacitação e meses depois que eu e outra pessoa saímos, o laboratório fechou. Os professores sentem falta de alguém que os dê segurança para ministrar aulas e fazer trabalhos com SRSs.

Gilson Porto (setembro 26, 2011 11:30 AM) disse:

Oi Raquel, gostei muito de suas indicações. Aqui no Tocantins temos algumas experiências ocorrendo em sala de aula com o uso do orkut, blogs e facebook. É claro que são iniciativas de professores isolados e não uma política pública, mas já é um bom começo.... Talvez o que precisemos mais é de divulgação dessas iniciativas entre os colegas...

Sérgio Lima (setembro 26, 2011 11:40 AM) disse:

Opa Raquel,

Nada contra Redes Sociais na Educação. A questão é que elas devem ser inseridas a partir de um Sul pedegógico e não pelo hype.

Contribuindo com este temática eu indico 2 textos sobre o tema (meus 2 centavos nas conversações):

1 - 5 motivos para não se usar microblogues na educação: http://emrede.blog.br/tics/blog/5-motivos-para-nao-se-usar-microblogues-em-educacao/

2 - 3 aplicativos de redes sociais potencialmente educativos: http://emrede.blog.br/tics/blog/3-aplicativos-de-redes-sociais-potencialmente-educativos/

Jaime Guimarães (setembro 26, 2011 11:41 AM) disse:

Muito bom, parabéns!

Sou professor e já procurei trabalhar com internet e SRSs em algumas salas de aula. Os desafios são imensos e é preciso que o professor tenha uma persistência muito grande caso queira trabalhar desde aspectos mais simples como digitação de texto a blogs ou wikis. Isso, obviamente, dentro da escola, pois há uma série de problemas:

- não há integração das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação nos planejamentos dos professores. Quando muito, apenas o famoso "uso do vídeo", mas internet e SRSs são desprezadas mesmo quando a escola disponibiliza o uso em laboratório de informática.

- Mas por que isso acontece? Muito pelo condicionamento do que seja "aula". Não apenas para professores mas também para alunos, aula é escrever, copiar, fazer prova o tempo todo. Uma proposta diferente como um "blog", por exemplo, é vista com desconfiança por parte dos docentes.

- Justamente pela ideia de ser apenas "entretenimento", e não "coisa séria".

- Como dito no comentário acima do João Damasio, há insegurança dos professores em utilizar esses meios. È preciso que a comunidade escolar ( coordenadores pedagógicos e direção) também ajudem neste sentido. Acreditem, há laboratórios de informática fechados com cadeado porque diretores têm "medo de que os alunos danifiquem as máquinas"; e não é raro professores ouvirem "advertências" sobre a manutenção das máquinas - adeus, estímulo!

- "Acho que elas já estão nas escolas, as escolas é que não estão nelas." Com a atual grade curricular e com a carga horária da qual os professores precisam cumprir - cada vez maior - é "mais fácil" ficar apenas no tradicional do que tentar "o novo". Existe todo um sistema que precisa ser modificado.

Repetindo, muito bom o texto e já está em meus favoritos e vou compartilhar.

Abs!

raquel (setembro 26, 2011 4:25 PM) disse:

Oi Jaime!
Super pertinentes suas considerações. Quero falar dos problemas e impedimentos também nos próximos posts. :D E tb falar um pouquinho do uso de tecnologias móveis.

raquel (setembro 26, 2011 4:27 PM) disse:

Oi Sergio,
Também quero falar de apps. :) Valeu por compartilhar seus links.

raquel (setembro 26, 2011 4:28 PM) disse:

Gilson,
Super concordo. Precisamos de políticas públicas e ações coletivas. Mas para isso, é preciso primeiro mostrar que a escola mudou. :)

raquel (setembro 26, 2011 4:31 PM) disse:

Joao Damasio,
Acho que é preciso uma política pública de investimentos em educação nesse aspecto. Ou isso ou a escola corre o risco de tornar-se tao deslocada da realidade dos alunos q nao fará sentido no seu universo. Coisas como "nao vou copiar, posso tirar uma foto com o meu celular" e "isso q vc disse está diferente na internet" são cada vez mais comuns. Precisamos sim debater essas questões. :D

Jaime Guimarães (setembro 26, 2011 11:21 PM) disse:

Oi, Raquel.

E vou acompanhar os próximos posts. Estes assuntos me interessam bastante :) E sobre as tecnologias móveis. \o/

Um abraço!

ana terse (setembro 27, 2011 2:13 AM) disse:

Olá Raquel,

Muito bom o seu post e as reflexões propostas.

Também tenho muito interesse por este assunto e procuro acompanhar algumas iniciativas inovadoras.

Escrevi um artigo ano passado, que propôs compreender a aprendizagem social a partir da perspectiva dos sites de redes sociais, e ler o seu post contribuiu para ampliar a reflexão.

Penso que para além do uso dos sites de redes sociais, as dinâmicas interacionais que emergem da/em rede nos faz repensar sobre o que constitui de fato, um vínculo de aprendizagem. Como posições e configurações da rede interferem no acesso e na capacidade de agir sobre aprendizagem? De que forma a perspectiva e dinâmica dos sites de redes sociais podem contribuir para resultados de aprendizagem em rede?

No artigo “Is Twitter a Complex Adaptive System?” a filósofa e pesquisadora Venessa Miemis (2010) propôs a idéia de que o Twitter pode estar evoluindo para uma entidade do tipo inteligência coletiva. Com tudo, o que apresento no atigo, é que a aprendizagem social pode utilizar-se da perspectiva das redes sociais pressupondo utilizar o potencial informacional e as experiências dos outros a partir da observação comportamental das redes de relações sociais constituídas - entendendo a lógica da rede como um fluxo permanente de ouvir/ler, observar, fazer/repetir e compartilhar, ou seja, não existe um plano, uma estrutura linear ou feedback direto e previsível para se aprender alguma coisa.

Penso que é por aí e que podemos e precisamos avançar muito nessas reflexões.

abs,

Terse
@Aterse

Guilherme Cavalcanti (setembro 27, 2011 5:53 PM) disse:

Olá Raquel, ótimo post.

Existem iniciativas aqui no Brasil para potencializar o ensino e aprendizagem através de redes sociais e da aprendizagem em Rede.

Faço parte do Redu (http://www.redu.com.br) que é uma proposta de Rede Social voltada para a educação. Estamos finalizando a primeira versão do produto que já está aberto para quem quiser testa-lo.

Muito mais do que criar uma rede social on-line queremos aproveitar o momentum das redes sociais existentes e aproveitar a sinergia que é criada com a integração de aplicativos às mesmas.

Abraço!

Ronaldo F. Araújo (setembro 27, 2011 8:38 PM) disse:

Parabéns pelo post Raquel, e obrigado pelas indicações.
Gostei muito, tive uma experiência recente utilizando o twitter como ferramenta de "apoio" à disciplina e deu muito certo. Criei uma tag e analisei o uso e comportamento da turma em relação a aplicação do micromensageiro no desenvolvimento da disciplina e percebi que foi muito proveitoso. Das conexões às conversações. Chamou inclusive minha atenção, perceber a apropriação do uso descolado com os dias e horário da disciplina envolvendo atores externos à turma. O rendimento dos alunos nas provas também melhorou depois do uso.
Acho que o desafio do professor é que os casos são cada vez mais pontuais, não é porque deu certo com uma turma que dará em outra, temos que ficar combinando as mídias e percebendo em qual os alunos correspondem melhor. =]

raquel (outubro 10, 2011 5:39 PM) disse:

Ronaldo, adorei seu testemunho! Vc não quer me dar seu email pra gente conversar sobre essas práticas? :)

raquel (outubro 10, 2011 5:40 PM) disse:

Obrigada pelo comentário, Guilherme! :) Gostei do Redu. :)

raquel (outubro 10, 2011 5:41 PM) disse:

Adorei o comentário, Ana! :D

raquel (outubro 10, 2011 5:42 PM) disse:

Valeu, Jaime! :)

João Baptista Lago (outubro 23, 2011 8:50 PM) disse:

Raquel, tô sumido pq tenho trabalhado adoidado. Curto e grosso: não teria jamais apresentado um único trabalho em nenhum Intercom, se não tivesse participado de uma grande "brincadeira" online: brincar de ficar trocando figurinhas com você e outras pessoas, sobre os SRSs. Revendo os anos de 2008, 2009 e 2010, cheguei à conclusão que, sem que estivesse me dando conta disso, estava vivendo um processo muito interessante de aprendizado colaborativo no campo da Comunicação, através de SRSs e de um modo espontâneo. Avalio que, se eu fosse um aluno presencial e regularmente matriculado, talvez não tivesse passado por uma vivência assim tão rica e interessante.

raquel (outubro 24, 2011 11:22 AM) disse:

Que legal, JB Lago! :DDD Adorei a contribuição tb.

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