[15 de julho de 2010]

Sites de Redes Sociais e Educação

sns.jpgO assunto dos diversos aspectos dos usos dos sites de rede social para a educação é algo que me é caro, e sobre o qual tenho escrito no blog do Digital Media and Learning (DML). O assunto de um dos meus últimos textos foi, justamente, o do potencial das ferramentas de mídia digital para ações educativas e a grande barreira do preconceito que muitas dessas ferramentas enfrentam dos administradores, educadores e instituições.

O Orkut como Ferramenta Educativa e o Preconceito

Comecei a pensar mais nesses aspectos quando, em 2008, assisti a uma apresentação do Jeremiah Spence sobre o papel do Orkut na inclusão digital no Brasil. Lembro que, na época, fiquei chocada, pois não tinha imaginado ainda que a imensa adoção do Orkut no Brasil fosse um motivador crucial para que milhares de pessoas entrassem na Rede e quisessem aprender mais a respeito de como utilizar essas ferramentas. O Jeremiah passou algum tempo no Brasil, analisando a inclusão digital e, na época, apresentava alguns resultados, dentre eles, o fato de que as pessoas estavam utilizando massivamente o Orkut em cibercafes e telecentros como forma de aprender a Internet. Um dos casos emblemáticos foi essa reportagem publicada no G1, a respeito de um morador de rua que tinha utilizado o Orkut para estudar (e posteriormente ser aprovado) em um concurso público.

No entanto, ao mesmo tempo, colocava, crescia imensamente o preconceito contra a ferramenta como elemento de inclusão digital e ela passava a ter seu acesso proibido em quase todos os ambientes públicos no País. Esse preconceito espalhou-se com força. Em muitas universidades e escolas no país ainda é proibido o uso de qualquer site de rede social ou ferramenta de comunicação mediada por computador, com a rara exceção do email. As justificativas são muitas e, quase sempre, voltadas ao fato de que essas ferramentas não servem para a educação.

Sites de Rede Social, Comunicação e Educação

O grande problema aqui é pensar que "educar" e "aprender" são processos unilaterais e que apenas sites comuns e o Google são ferramentas que podem auxiliar alunos e professores a construir conhecimento. O que, todos sabemos, não é verdade. Aprender é um processo social, não individual. Depende de um contexto social. É coletivo. E são, justamente, as ferramentas de CMC que dão, ao aprendizado hoje, um contexto social. Os sites de rede social assim, podem e devem ser usados com propósitos educativos. Não é porque as pessoas "usam para conversar" que a ferramenta é uma "perda de tempo". A conversa faz parte do processo. A comunicação faz parte do processo. Proporcionar o uso dessas ferramentas, assim, pode ter resultados muito positivos em sala de aula. Estimular o uso criativo, a apropriação e a busca por mais informações são apenas algumas das maneiras de usar essas tecnologias. Usar blogs, comunidades e o próprio Twitter como ferramentas de discussão, troca de informações e construção do conhecimento não é apenas proporcionar um ambiente de discussão, mas auxiliar o próprio processo de contrução do conhecimento. Discutir os problemas e orientar os usos dessas ferramentas também são essenciais.

É claro que existem riscos e maus usos dessas tecnologias como, por exemplo, nos casos do cyberbullying. Uma das causas, parece-me, é que parte desses comportamentos desviantes aparece, justamente, porque professores, pais e instituições não estão presentes nessas ferramentas, que viram "terra de ninguém" e "terra sem autoridade". Outros desses usos, do meu ponto de vista, estão relacionados a trabalhos escolares que estimulam a busca no Google e o recortar e colar dos resultados como "ferramenta educativa". Ainda assim, esses maus usos não justificam o silenciamento dos usos construtivos. Ainda assim, a presença do desvio não invalida a presença da mídia digital na educação. E queiramos ou não, essa presença acontecerá. Assim, a grande questão passa a ser: Queremos formar as novas gerações na base do control+c/control+v ou como indivíduos pensantes, críticos e capazes de lidar com esse novo universo de sentidos?

A resposta a essa questão passa pela discussão da liberação de ferramentas como o YouTube, o Twitter, o Flickr e até mesmo, o próprio Orkut dentro das instituições de ensino e seu uso pelos professores, como ferramentas construtivas, que podem e devem auxiliar o aprendizado sobre o mundo.
por raquel (10:22) [comentar este post]


Comentários

Gerson Luiz Martins (julho 15, 2010 11:13 AM) disse:

Excelente Raquel! Realizo um trabalho que conjuga as redes sociais no ensino de ciberjornalismo. E fico desapontado quando percebo que nossas universidades bloqueiam o acesso às redes sociais. Na UFMS não consigo usar o Facebook ou o Orkut no laboratório de ciberjornalismo. Lamentável. Abs.

Eduardo Rosa (julho 15, 2010 1:55 PM) disse:

Nas Universidades basta mudar a mentalidade dos admisnitradores para liberar as redes sociais, porém nas escolas públicas muito ainda tem q ser feito. Pra começar a grande maioria delas não tem laboratório de informática, e as que tem possibilitam um computador pra cada 4 ou 6 alunos... Como se vê a teoria é bonita mas vocês estão muito distantes da realidade. Saiam das salas e faculdades de elite e vão às ruas conhecer a vida real.

Nigini A. Oliveira (julho 15, 2010 6:50 PM) disse:

Muito bom o texto, e extremamente encorajador para mim, tanto como pesquisador como coordenador de curso de ensino superior. Bom saber que aqui no interior da Paraíba estamos indo (corretamente) conta a maré e desenvolvendo/inserindo no nosso curso uma ferramenta baseada em Rede Social para a gerência de conhecimento e "alargamento" do processo ensino-aprendizagem. Em breve o site do grupo de pesquisa terá mais informações sobre "a Virtua"!

Cleber (julho 16, 2010 12:03 AM) disse:

Muito interessante o post. Eu mesmo nunca tinha pensado nessa relação "orkut X educação". Achei o caso do morador de rua muito emblemático.

Andre Deak (julho 20, 2010 9:28 PM) disse:

Olá Raquel, tudo bem? Faz tempo queria te convidar para uma entrevista. Sei que chovem pedidos pra vc, mas que acha de, sem prazo, responder umas questões para o www.jornalismodigital.org ? grande abraço

Renata O. Garcez (julho 23, 2010 11:28 AM) disse:

Excelente teu texto. Realmente, a primeira coisa que as instituições de ensino fazem é bloquear orkut, facebook e outros sites de redes sociais, para evitar que os alunos "percam tempo". Sou professora do IFSul (Pelotas) e usamos bastante estas ferramentas para nos comunicarmos com os alunos e enriquecem bastante nas aulas. Outros professores, sigam o exemplo. Gestores de educação, abram os olhos!

Lilian Starobinas (julho 23, 2010 12:39 PM) disse:

Olá Raquel,
acho realmente expressiva a pouca adoção das Redes Sociais na educação. Sobre o Orkut, é bom lembrar que a limitação oficial para menores em tese inibe que se formem comunidades convidando os alunos da Educação Básica. Aliás, tentei perguntar ao pessoal do Google se eles observavam esses usos, se tinham bons exemplos e se iam atrás de observar e lidar com essa limitação de idade. Não obtive nenhuma resposta. Sobre a timidez no uso, acredito que, mais além de uma postura preconceituosa, há ainda dificuldades em usar essas Redes com um viés pragmático: o que pretendemos atingir com essa proposta? chegaremos a algo, ou será um exercício diletante? Acho que temos alguns exemplos de propostas que chegam ... é só ver as do pessoal do Minha Terra, comunidade do EducaRede, ou as experiências da Prefeitura de São Paulo com a produção de programas de rádio... Mas creio que falta ainda um pulo do gato didático.
abços
Lilian

Marcos Campelo (julho 31, 2010 9:34 AM) disse:

Olá Raquel,

Como sempre, um excelente texto. Essa relação entre redes sociais e educação é realmente muito interessante.

Passada essa euforia das redes sociais mais genéricas, eu acredito que haverá uma criação de redes sociais de nicho, principalmente aplicada aos negócios e a educação.

Para mim, uma das principais utilizações das redes sociais será na aprendizagem. Redes sociais focadas em tecnologias de aprendizagem social.

Nesse sentindo, estou desenvolvendo, junto com outras pessoas, uma rede social de aprendizagem, focada inicialmente em concursos públicos mas que, no futuro, poderá evoluir para outras áreas de aprendizagem informal e quem sabe, formal.

A rede se chama http://atepassar.com e já conta com milhares de usuários. Vale a pena conhecer esse novo enfoque em redes sociais.

Marion Dantas (agosto 11, 2010 12:24 AM) disse:

Poxa, estou bebendo em uma fonte de cultura... estava procurando livros, e não encontrei muitos... porém aparece você com esse blog, que será de grande importância para meus estudos da rede social de Salvador...
Creio que mesmo na rede social podem trazer um cunho importante para nossa educação, temos que nos ligar com essa moçada e contribuir para uma aprendizagem biopsicossocial.

Ugo Zanchi (agosto 16, 2010 10:54 AM) disse:

Olá, Raquel acredito firmemente nisto que você fala em seu artigo.
Sou formado em computação pela UnB e agora estou me preparando para o ingresso no Mestrado lá mesmo.
Meu tema será redes sociais/assistencialismo por isso gostaria, se possível, ter seu email para uma comunicação após a seleção do mestrado, já que você é referência neste tema.
Abraços

Marcella Albaine (abril 8, 2011 3:34 PM) disse:

Olá, Raquel.

Ótima matéria! Nós, estudantes e educadores, precisamos pensar nestas questões. A cópia existe desde à época das famosas Enciclopédias, com a diferença que isso hoje se dá de uma maneira muito mais rápida. Se educadores se fecharem à esse debate, sem dúvidas, perderemos muito.

Janaína (junho 15, 2011 9:43 PM) disse:

Olá Raquel, adorei a matéria. Estou fazendo Mestrado em Educaçao na Unisinos e já comprei teu livro sobre redes sociais pois minha área de pesquisa é justamente Redes Sociais na Educação. Adoro ler o que tu escreves e vc tem sido uma fonte para os meus estudos.

André (setembro 14, 2011 8:40 PM) disse:

Um ótimo livro que eu estou lendo é "A Utilização das Redes Socias na Educação".

http://clubedeautores.com.br/book/50369--A_Utilizacao_das_Redes_Sociais_na_Educacao

Ana Maria (setembro 17, 2011 5:51 PM) disse:

Olá Raquel! Estou adorando seus posts! Sou bibliotecária e faço especialização em Midias Digitais, minha pesquisa é sobre o uso das redes sociais em bibliotecas. Minha orientadora recomendou que lêsse seus artigos. Acredito no potencial dessas ferramentas para o compartilhamento de informações, mas o desafio é vencer o preconceito que há por parte das instituições como vc abordou.
Abçs

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