[05 de setembro de 2011]

Sobre Memes e Redes Sociais

meme1.jpgHoje decidi mudar um pouquinho o andamento das aulas de Comunicação e Cibercultura e incluir um tópico sobre um assunto que me é muito caro: o tópico dos memes na cultura digital. Acho que é uma aula especialmente legal para os alunos da Publicidade, embora também seja particularmente interessante para quem estuda Jornalismo. Estudando o tema de novo, para poder discutir um pouco (escrevi alguns artigos no passado), lembrei de postar algumas coisas aqui, para quem também se interessa.

A idéia de meme não é nova. A palavra meme, por exemplo, foi usada pela primeira vez no livro "O Gene Egoísta" de Richard Dawkins. A proposta é que as idéias funcionam de modo análogo aos genes. Elas nos utilizam enquanto modo de evoluir e sobreviver. Assim, os memes são pedacinhos de informações, idéias, que são passadas adiante (e aqui está um dos pontos polêmicos da memética: somos meros hospedeiros dessas idéias, que "pulam" de cérebro a cérebro), recombinam-se e transformam-se tentanto sobreviver. E o resultado é que a cultura evoluiu de acordo com a evolução dos memes. E aqui, dois pontos são importantes. O primeiro é que nem todo o meme se espalha por contágio viral e contamina uma expressiva quantidade de pessoas e o segundo é que e nem todo o meme consegue se propagar.

Memes na Internet

Pois bem, com o advento da digital, há uma espécie de registro da evolução dessas idéias. É possível observar talvez de uma forma mais clara quais memes persistem, quais encontram um terreno frutuoso para sobreviver e quais não conseguem se propagar. Isso porque o digital e o ciberespaço em especial têm características importantes. Primeiro, são capazes de armazenar as informações, que persistem circulando (persistência). Depois, esses arquivos são capazes de oferecer a informação de forma idêntica àquela de sua publicação (fidelidade).

Memes e Redes Sociais na Internet

Há um ambiente mais complexo de propagação e recuperação desses memes, gerado pelas redes sociais que estão na Internet. Essas redes, por suas características associativas ou de filiação (ou seja, por estarem constituídas por ferramentas, mais do que por relações sociais) são muito mais amplas. Além disso, suas conexões associativas permanecem ativas mesmo quando os sujeitos não estão online, capacitando-os a recuperar as informações que foram propagadas durante sua ausência. Com isso, há ao mesmo tempo um terreno ainda mais fértil para a propagação e mais competitivo. Há uma simplificação dos modos de colocar idéias na rede e circulá-las, o que aumenta (e muito) a quantidade de memes nas redes e, consequentemente, cria um espaço mais competitivo para que esses consigam replicar-se (a chamada "economia da atenção", de Lahan, que advoga que o recurso em escassez na sociedade contemporânea não é a informação e sim a atenção).

As redes sociais na Internet ofereceram um modo mais próximo de estudo da propagação das idéias, suas recombinações e suas partes. É possível perceber de forma mais nítida como determinados pedaços de uma informação são repassados, recombinados, re-significados e reconstruídos nesses ambientes. Assim, quando se observa a propagação de uma hashtag, observa-se também a propagação de um meme, suas apropriações e suas recombinações. E podemos ver claramente como diferentes memes propagam-se também de forma diferente. Ou seja, através da rede, temos a possibilidade de compreender de forma mais clara como os memes se propagam, ao menos, no espaço digital, bem como de medir essa propagação (embora parcialmente). Esses memes podem ser expressos em brincadeiras, videos, emoticons, hashtags e etc. Quanto mais eficiente o meme, maior a quantidade de referências, apontamentos e reinterpretações que são feitas a ele. (Já discuti um pouco disso aqui.)

Como os memes se propagam?

Para entender a propagação dos memes nas redes sociais, eu defendo que é preciso entender as percepções das pessoas. Por que alguém propaga uma determinada informação? Minha proposta é que as informações nas redes sociais online são propagadas com base na percepção de valor que elas contém. Ou seja, o que motiva as pessoas é a percepção do ganho social que obterão com a divulgação ou replicação ou publicação de uma informação. Para mim, esse valor chama-se capital social. Assim, um meme pode ser passado adiante porque é engraçado (meus amigos vão gostar, logo receberei alguma valorização da rede por tê-lo repassado), porque é relevante p/ a sociedade, porque é interessante a um determinado grupo etc. Eu, enquanto propagadora do meme, busco reputação, visibilidade, popularidade, influência e etc. Compreender os valores que um meme inspira num grupo social é, para mim, o modo de compreender e até mesmo, prever como irá se propagar. Importante perceber também que esses valores podem ser diferentes de cultura a cultura, de grupo social a grupo social. E que a complexidade das redes (e sua consequente exposição a um número maior de memes) também influencia essa propagação.
por raquel (07:55) [comentar este post]


Comentários

Thalles Waichert (setembro 5, 2011 12:01 PM) disse:

Ei, Raquel! Gostei bastante da ligação que você faz da memética com o capital social. Tenho tentado algo parecido no mestrado, mas ao invés da memétia estou me apoiando no Número de Dunbar. Acabei escrevendo um post baseado no seu. Se puder, passa lá no meu blog pra dar se aval. Obrigado! :)

Adriano (setembro 5, 2011 12:45 PM) disse:

Gostei da forma objetiva, clara e técnica que a autora escreveu o artigo. Os Memes é um assunto atual e relevante que merece a atenção dos estudiosos. Parabéns pelo texto.

Demetrio (setembro 5, 2011 8:59 PM) disse:

Muitas pessoas ficam indignadas e se perguntam como alguns memes chegam ao estrelato. Sempe indico uma análise abstraída de ética, moral e lógica de conduta para identificar o que considero a principal característica do "Capital Social": Singularidade.

Todo mundo está cansado de ver réplicas, as pessoas propagam manifestações únicas e espontâneas e esse comportamento é recorrente em todos os grupos culturais.

Busca de singularidade então? Sim! Nada disso é novo, a decadência do socialismo frente ao capitalismo, a supevalorização de craques de futebol, executivos valendo ouro, momentos e presentes que os valores são desproporcionais ao bem, tudo caminha para nossa busca incessante pelo fator singular.

Larissa Régia (setembro 7, 2011 2:40 AM) disse:

Professora, quero estudar contigo. Rs... Que texto simples e interessante. Já havia lido algumas coisas sobre o assunto. Mas, nada tão compilado. A ideia dos memes é para mim é o que há de mais claro sobre a alma da nossa geração. Todos querem estar por dentro do assunto. A visibilidade, o respaudo, a popularidade são características bem fortes do comportamento do porquê das replicações de ideias... Mas, é tudo ainda tão nebuloso para mim. Vou ler teus outros posts... =D Abraço! @larissaregia

Failon (setembro 19, 2011 9:55 PM) disse:

Ótima abordagem!
Achei muito interessante a questão do capital social, o compartilhamento (de certa forma egoísta) onde se busca algum benefício para sí próprio a compartilhar algum tipo de conteúdo.

Failon (setembro 19, 2011 9:59 PM) disse:

Raquel,

sou estudante de economia, mas tenho me dedicado ao estudo das redes e mídias sociais. Já li deversos livros sobre o tema (Martha Gabriel, Claudio Torres, Fabio Cipriani etc.). Acredito que minha compreensão sobre a dinâmica de mídias e redes sociais esteja avançada. Entretanto, tenho certa dificuldado em temas ligados à comunicação e marketing (principalemnte o componente promoção, comunicação). Bem, poderia me indicar uma bibliografia que me ajudasse a fazer um planjamento de comunicação bem estruturado, assim como compreender o composto de comunicação de marketing? Desde já agradeço.

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